“Divertido” não é um adjetivo que costuma ser muito utilizado para descrever a carreira do cineasta norte-americano Darren Aronofsky. Desde que ganhou a atenção de Hollywood com Requiém para um Sonho (2000), o diretor fez da dor e do sofrimento características muito mais marcantes e presentes em seus filmes do que quaisquer outras. Em Ladrões (2025), no entanto, o tom adotado é outro – e a diversão surge como uma surpreendente novidade em uma filmografia majoritariamente tomada por dramas excessivos.
Em cartaz nos cinemas desde meados de agosto, o filme acompanha a improvável aventura de Hank Thompson (Austin Butler), um ex-jogador de beisebol que se vê envolto em uma trama perigosa. Morador de Nova Iorque, ele aceita a missão de cuidar do gato de seu vizinho Russ (Matt Smith) enquanto o mesmo visita o pai na Inglaterra. De um dia para o outro, no entanto, criminosos russos e judeus passam a bater na porta ao lado de seu apartamento à procura de algo do qual ele não faz ideia do que se trata, mas que rapidamente se vê forçado a descobrir.
Ladrões é um filme sobre a escalada de absurdos, onde uma pessoa comum passa a enfrentar uma sequência de fatos perigosos que nada têm a ver com o seu dia-a-dia. Repentinamente, a rotina de atendimentos em um bar vivida por Hank dá lugar a espancamentos por membros da máfia, perseguições de religiosos ortodoxos e ameaças de morte contra entes queridos. Tudo isso, enquanto personagem e público se perguntam: “o que está acontecendo?”.
Foto: Sony Pictures EntertainmentEssa dúvida, atrelada aos acontecimentos improváveis que chocam e quebram expectativas, é responsável por ditar o que há de melhor no filme. Pela primeira vez em toda a sua carreira, Aronofsky parece estar se divertindo na direção de um longa-metragem. O cineasta abandona o intenso, e por vezes cansativo, estado de sofrimento de seus longas mais famosos para construir uma ação que se segura, sobretudo, no humor.
O diretor faz um Depois das Horas (1985) do seu jeito, mas sem o mesmo brilho e genialidade do filme de Martin Scorsese – que, inclusive, serviu abertamente de inspiração para Ladrões. As boas atuações de Austin Butler, Matt Smith e Regina King não são suficientes para fazer com que o longa seja mais do que divertido, sobretudo em momentos onde flerta com um drama difícil de comprar e, aí sim, tragicamente comum ao cineasta.
De toda a forma, vale pela novidade de ver um novo e mais vivo lado de Aronofsky. Visualmente muito menos inspirado do que Cisne Negro (2010) e Mãe (2017), é bem verdade. Mas, ainda assim, com bons lampejos de algo empolgante.
Nota: 3/5
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Ladrões está disponível nos cinemas. Confira o trailer: