Casa de Dinamite: uma América feita para explodir

Novo filme da Netflix acompanha um EUA sob ataque e as decisões que podem levar a uma Terceira Guerra Mundial.

Paulo Monteiro

Publicado em: 31 de outubro de 2025

8 min.
Casa de Dinamite uma América feita para explodir

Foto: Divulgação

Faz exatamente uma semana que Casa de Dinamite, novo filme da diretora norte-americana Kathryn Bigelow, chegou ao catálogo da Netflix. Desde então, o longa tem não apenas estado em alta na plataforma de streaming como, também, na boca do próprio círculo presidencial dos Estados Unidos. Isso porque o Pentágono fez, nesse meio tempo, uma série de críticas públicas à obra, alegando “imprecisões” na forma como esta trata a defesa estadunidense. Apontamentos, esses, que foram rebatidos pelo roteirista e também pela cineasta responsável pela direção em um pingue pongue sobre arte e política não tão inesperado para os dias de hoje.

Chega a ser curioso, para não dizer sintomático, que a mínima retratação de fragilidade da Casa Branca tenha feito com que Casa de Dinamite fosse tão incômodo ao governo norte-americano. Para um Estado que se vangloria tanto do seu poder bélico, da forma como os Estados Unidos fazem, a suposição de brechas nesse sistema, mesmo que dentro de uma ficção, é suficiente para gerar um mau estar – e isso talvez diga muito mais sobre o nível da política estadunidense do que necessariamente do longa-metragem em si.

Casa de Dinamite acompanha diversos setores governamentais dos EUA após a detecção de entrada de um míssil na órbita norte-americana. O projétil é uma surpresa para os muitos setores de defesa, que não sabem de onde ele partiu – mas reconhecem o seu potencial de destruição e mortalidade. Enquanto o tempo corre, autoridades precisam fazer ligações e tomar decisões que podem ou não levar o mundo a uma Terceira Guerra Mundial.

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Foto: Divulgação

Ancorado na escalada de tensões nucleares vivida pelo mundo, diante de líderes como Donald Trump e Vladimir Putin, que ao mesmo tempo em que flertam com o autoritarismo se gabam do poder de fogo de seus respectivos países, o filme explora um Estados Unidos cuja posição de destaque no mapa político é resultado do mesmo fator que pode o levar à ruína: o cacife de destruição de suas armas. A política agressiva de um Estado que exalta aos quatro ventos o seu poderio de invasão cria, assim como visto na Guerra Fria, uma paranoia onde o atirador pode em algum momento se tornar o alvo.

Kathryn Bigelow se mostra bastante didática na forma como expõe esse ambiente paranoico. São tantas as desavenças criadas pelo governo norte-americano ao longo das últimas décadas que, quando um ataque aéreo surge em seu território, é difícil dizer de onde ele partiu. Qualquer decisão de retaliação tomada a partir daí é ancorada em um jogo de blefe que, ao mesmo tempo em que pode ser certeiro na identificação do agressor, também pode punir inocentes a partir de um novo conflito global.

Mas onde o filme de fato funciona é na construção de tensão em cenários tão burocráticos como o de Casa de Dinamite. A partir de uma câmera às vezes quase que documental, a diretora faz com que o espectador não precise ver o míssil ou a movimentação do exército para entender o peso daquele ataque ou a urgência com que as decisões ali precisam ser tomadas. O timer na tela, que indica os minutos restantes até o impacto, aliado a boa atuação de Rebecca Ferguson, Greta Lee, Gabriel Baesso e Jared Harris, são suficientes para que possamos compreender o que está em jogo.

Casa de Dinamite também se arrisca, mesmo que de forma superficial e brega, a ensaiar uma crítica um tanto quanto batida (ainda que verdadeira) de que a vida de muitos está nas mãos de poucos. Diante de uma situação de ataque, são nesses salões e ante salas que um grupo bastante pequeno de pessoas acaba por decidir o futuro do mundo inteiro. Quando a possibilidade de morte se torna real, os pensamentos dos agentes não estão na população como um todo, mas sim na esposa grávida, no filho pequeno e/ou nos demais familiares.

Minha decepção com Bigelow, no fim das contas, está muito mais na forma como ela escolhe levantar esse tema de uma América prestes a explodir do que exatamente na execução. O longa é bastante competente dentro do seu exercício de urgência. A diretora, no entanto, nunca consegue assumir por completo a sua crítica ao comportamento agressivo dos Estados Unidos com relação ao restante do mundo. Afinal de contas, não há cinismo ou má intenção no presidente ou naqueles que tomam as decisões, somente na estrutura criada pelo país. Kathryn, que já foi mais incisiva nessas abordagens em filmes como Guerra ao Terror, escolhe, aqui, tirar da reta os seus executores e concentrar todo o seu problema em um fantasma.

Nota: 3,5 / 5

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Casa de Dinamite está disponível na Netflix. Confira o trailer:



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