Pela primeira vez, cientistas detectaram sinais de rádio emitidos por um objeto interestelar. O feito foi registrado no último dia 24 pelo radiotelescópio MeerKAT, localizado na África do Sul, que captou ondas de rádio de 1,665 GHz e 1,667 GHz provenientes do cometa 3I/ATLAS — um visitante que viaja pelo Sistema Solar após cruzar os confins da Via Láctea.
De acordo com o relatório enviado ao The Astronomer’s Telegram, as linhas de absorção identificadas correspondem à presença de radicais de hidroxila (OH), substâncias que se formam a partir da sublimação do gelo — quando o gelo passa diretamente do estado sólido para o gasoso. Essa é uma assinatura clara da atividade natural de um cometa, confirmando que o 3I/ATLAS possui um núcleo gelado e uma coma (nuvem de gás e poeira que o envolve).
O que significa captar sinais de rádio do espaço
Captar ondas de rádio de corpos celestes é uma prática comum na radioastronomia — área que permite “ouvir” o Universo por meio de ondas eletromagnéticas invisíveis aos telescópios ópticos. Esses sinais ajudam a decifrar fenômenos como campos magnéticos, composição química e comportamento atmosférico de planetas e cometas.
No caso do 3I/ATLAS, os dados confirmam que o objeto veio de uma região extremamente fria da galáxia. Quando se aproximou do Sol, parte de seu gelo se converteu em gás, gerando as emissões detectadas. É também a primeira vez que um sinal de rádio é captado de um corpo proveniente de fora do Sistema Solar, um marco histórico para a astronomia moderna.
Próximos passos: o encontro com Júpiter
A descoberta não encerra a investigação. Astrônomos de todo o mundo se preparam para um novo momento de observação. Em março de 2026, o cometa passará a cerca de 50 milhões de quilômetros de Júpiter, e a sonda Juno, da NASA, tentará registrar novas emissões entre 40 e 50 MHz. O objetivo é compreender melhor a interação do cometa com a radiação solar e os gases que compõem sua atmosfera temporária.
Um visitante raro
Cometas interestelares são extremamente incomuns. Até hoje, apenas três foram identificados — o ʻOumuamua (1I), o Borisov (2I) e, agora, o 3I/ATLAS. Diferentemente dos cometas nativos do Sistema Solar, esses viajantes não compartilham a mesma origem planetária. Eles trazem pistas sobre sistemas estelares distantes, funcionando como “mensageiros cósmicos”.
O nome 3I/ATLAS combina informações sobre sua descoberta: o prefixo “3I” indica que é o terceiro objeto interestelar identificado, e “ATLAS” se refere ao Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System, sistema de telescópios que o descobriu em 2025.
Uma “máscara cósmica”
Pesquisas recentes sugerem que o 3I/ATLAS carrega as marcas de uma longa jornada pelo espaço profundo. Um estudo publicado no servidor científico arXiv aponta que o cometa foi bombardeado por bilhões de anos de raios cósmicos, o que teria alterado sua composição original. Essa exposição teria criado uma crosta rica em dióxido de carbono e matéria orgânica modificada, encobrindo o material primordial do sistema onde ele se formou.
Observações do Telescópio Espacial James Webb já haviam revelado uma proporção de 7,6 partes de dióxido de carbono para cada parte de água — uma composição muito diferente dos cometas típicos do Sistema Solar. Segundo o pesquisador Romain Maggiolo, do Instituto Real Belga de Aeronomia Espacial, “ao longo de bilhões de anos, os raios cósmicos transformam lentamente o material, criando uma camada que mascara sua verdadeira origem”.
Há risco para a Terra?
Não há motivo para preocupação. O cometa não representa ameaça ao planeta. Em sua trajetória, ele não chegará a menos de 270 milhões de quilômetros da Terra — distância equivalente a 1,8 unidade astronômica (UA). Sua passagem mais próxima ocorrerá em 19 de dezembro de 2025, sem qualquer risco de colisão.
O eco de um viajante estelar
O cometa 3I/ATLAS é mais do que um visitante distante: é uma oportunidade rara de compreender a história do cosmos. Cada sinal captado, cada partícula analisada, ajuda a reconstruir a origem e a evolução dos mundos além do Sistema Solar.
Como disse o astrônomo Maggiolo, “o 3I/ATLAS não mostra como nasceu, mas como o tempo e o espaço o transformaram”.
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