Prefeito de Pedras Grandes critica decreto italiano e rompe pacto histórico

A nova norma altera de forma significativa o instituto do jus sanguinis, princípio que, há quase um século, garantia o direito à cidadania italiana a descendentes espalhados pelo mundo.

Eduardo Fogaça

Publicado em: 18 de dezembro de 2025

6 min.
Prefeito de Pedras Grandes critica decreto italiano e rompe pacto histórico. Foto: Divulgação

Prefeito de Pedras Grandes critica decreto italiano e rompe pacto histórico. Foto: Divulgação

A decisão do governo italiano de alterar regras históricas para o reconhecimento da cidadania por descendência provocou forte reação em municípios de Santa Catarina com raízes na imigração italiana. Em Pedras Grandes, no Sul do Estado, o prefeito Agnaldo Filippi classificou a medida como uma “agressão” aos ítalo-descendentes e anunciou o rompimento de um pacto institucional de amizade mantido com a Itália.

O posicionamento ocorre após a aprovação do Decreto nº 36, apresentado pelo ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani. A nova norma altera de forma significativa o instituto do jus sanguinis, princípio que, há quase um século, garantia o direito à cidadania italiana a descendentes espalhados pelo mundo.

“Quebra unilateral de direitos”, diz prefeito

Segundo Agnaldo Filippi, a mudança foi conduzida de maneira rápida e sem diálogo com as comunidades italianas fora da Itália, nem com os organismos oficiais que representam os descendentes no exterior.

Para o prefeito, a decisão rompeu um entendimento histórico e simbólico construído ao longo de décadas. Ele argumenta que a Itália perde mais do que ganha ao enfraquecer esses laços, especialmente diante da importância econômica e cultural do chamado “turismo de raízes”.

“Milhões de ítalo-descendentes circulam pela Itália e pela Europa, movimentando a economia, especialmente o turismo. Isso sempre foi um ativo para o país”, avalia.

Impacto direto em Santa Catarina

Santa Catarina concentra uma das maiores populações de descendentes de italianos do Brasil, especialmente nas regiões Sul e Extremo Sul. De acordo com Filippi, somente nas associações regionais AMREC, AMESC e AMUREL, cerca de 60% a 65% da população possui ascendência italiana.

No Brasil, o número total de ítalo-descendentes chega a aproximadamente 30 milhões de pessoas, o que amplia a repercussão da decisão italiana.

O prefeito reconhece que ajustes legais poderiam ser necessários, mas critica a forma como a mudança foi implementada. Para ele, o problema enfrentado pela Itália é administrativo, relacionado à falta de estrutura para atender à alta demanda por reconhecimento de cidadania.

“Se os consulados e prefeituras italianas não têm estrutura, esse é um problema interno deles. Não é cortando direitos históricos que isso se resolve”, afirma.

Contexto político internacional

Filippi também associa a decisão italiana a um movimento mais amplo da política internacional, marcado por restrições à circulação de pessoas e pressões econômicas. Ele cita o avanço de governos conservadores e disputas comerciais como fatores que influenciaram a mudança de postura da Itália em relação à imigração e à cidadania.

Apesar de declarações recentes de autoridades italianas, reafirmando que a ítalo-descendência seria um “patrimônio” do país, o prefeito considera que o gesto perdeu credibilidade após a aprovação do decreto.

Relação abalada e futuro incerto

Para Agnaldo Filippi, o impacto da decisão deixou marcas profundas na relação entre a Itália e seus descendentes no Brasil. Ele afirma que, mesmo com eventuais tentativas de correção no futuro, a sensação de desrespeito permanece.

Como gesto simbólico, o prefeito anunciou que Pedras Grandes não deverá realizar comemorações relacionadas à imigração italiana em 2027, ano que marcaria os 150 anos da chegada das primeiras famílias à Colônia Azambuja, fundada em 1877.

“Construímos nossa história aqui, junto com outros povos, e não devemos nada a ninguém. O respeito precisa ser recíproco”, conclui.


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