Há 30 anos, Santa Catarina enfrentava uma das maiores tragédias climáticas de sua história. Conhecida como Enchente de Natal, a catástrofe ocorreu entre os dias 23 e 24 de dezembro de 1995 e afetou diretamente cerca de 50 municípios, deixando mais de 28 mil pessoas desabrigadas e 29 mortes confirmadas em todo o estado.
O episódio marcou profundamente o sul catarinense, especialmente os municípios de Timbé do Sul, Jacinto Machado, Forquilhinha e Siderópolis, onde o volume extremo de chuvas provocou enchentes, deslizamentos de terra e destruição de comunidades inteiras.
O início dos resgates em meio ao caos
Foto: Divulgação/Prefeitura de Timbé do SulAs operações de resgate começaram ainda na noite de 23 de dezembro e se estenderam até janeiro de 1996. Na época, o então comandante do recém-inaugurado quartel do Corpo de Bombeiros Militar de Araranguá, coronel da reserva Vanderlei Vanderlino Vidal, coordenou uma das primeiras respostas à tragédia.
Segundo ele, os chamados indicavam pessoas ilhadas, desaparecidas e a possibilidade de mortes. Sem estrutura suficiente no novo quartel, equipes foram deslocadas de Criciúma para Timbé do Sul. Mesmo diante da escuridão, da lama e da força das águas, os bombeiros decidiram avançar ainda durante a madrugada.
As buscas ocorreram em condições extremas, com trechos em que a água chegava à altura do pescoço. Vítimas foram encontradas presas em árvores, algumas com vida, outras já sem sinais vitais.
Municípios mais afetados e dificuldades enfrentadas
O sul de Santa Catarina concentrou os cenários mais críticos da enchente. Além das perdas humanas, centenas de famílias tiveram suas casas completamente destruídas. Em muitos casos, o rio mudou de curso, soterrando áreas agrícolas e comprometendo a subsistência de comunidades inteiras.
Em bairros como Barranca, em Araranguá, o desafio foi convencer moradores a deixarem suas casas. Mesmo com o tempo aberto após as chuvas, o nível dos rios continuou subindo, exigindo evacuações noturnas e novos resgates.
Relatos de quem viveu a tragédia
Entre os sobreviventes está Anderson Rufino Vieira, que tinha 11 anos na época. Ele perdeu 11 familiares na enchente ocorrida no costão da serra entre Nova Veneza e Siderópolis. Arrastado pela correnteza por cerca de 800 metros, sobreviveu ao ficar preso em uma árvore e só foi resgatado uma semana depois por um helicóptero.
Foto: Edna SchmitzMoradores de Timbé do Sul, como Wilson (foto), guardam até hoje jornais e lembranças da tragédia. Ele relembra que, em algumas localidades, sequer choveu com intensidade, o que pegou a população de surpresa quando os efeitos da enxurrada chegaram.
Bombeiros, policiais e voluntários unidos pelo salvamento
Além do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC), atuaram de forma integrada a Polícia Militar, a Defesa Civil, o 28º Grupo de Artilharia de Campanha e dezenas de voluntários. Muitos profissionais passaram o Natal e o Ano-Novo longe das famílias, dormindo molhados, com alimentação escassa e jornadas exaustivas.
O subtenente Laércio Pedroso, que havia se tornado pai recentemente, deixou a comemoração de Natal para atender ao chamado. Já em Siderópolis, o subtenente Sérgio Joaquim relembra os riscos constantes de deslizamentos e a dificuldade para localizar vítimas soterradas pela lama.
Avanços na resposta a desastres após 1995
A tragédia evidenciou a precariedade de equipamentos e a falta de estrutura da época. Hoje, o cenário é diferente. O CBMSC conta com viaturas especializadas, embarcações, jet skis, drones, fardamentos adequados e treinamentos específicos para ocorrências de desastres naturais.
Criada em 2011, a Força-Tarefa do CBMSC passou a atuar de forma descentralizada nos 15 batalhões do estado, permitindo respostas mais rápidas e autônomas em situações de emergência.
Segundo o comandante do 4º Batalhão de Bombeiros Militar, tenente-coronel Henrique Piovezam da Silveira, o monitoramento preventivo e a integração com a Defesa Civil e prefeituras são hoje fundamentais para reduzir riscos e salvar vidas.
O que dizem a geologia e a meteorologia
Estudos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) apontam que a Enchente de Natal foi provocada por um evento extremo de chuva concentrada em curto período, com volumes muito acima da média histórica. O solo saturado favoreceu o escoamento superficial, resultando em enchentes e deslizamentos severos.
A meteorologista Marilene de Lima, da Epagri/Ciram, explica que, à época, o sistema meteorológico catarinense ainda era incipiente, com medições manuais e falhas no registro de dados devido à perda de acesso a estações durante o desastre.
Memória, marcas e lições
Em Timbé do Sul, um memorial na comunidade da Figueira Bordignon homenageia as 16 vítimas do município com a frase: “A água levou… a lembrança ficou”. Próximo ao local está o Poço do Violão, ponto turístico que surgiu após o rio alterar seu curso devido à força da enxurrada.
Foto: Edna SchmitzTrês décadas depois, a Enchente de Natal permanece como um marco doloroso da história catarinense, mas também como um divisor de águas na forma como o estado se prepara e responde a eventos climáticos extremos.
Informações: Edna Schmitz/CBMSC
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