Denis Luciano
PL chega, chegando com Guidi, Jorginho & Cia
Governador anuncia chapa do PL e isola MDB, bolsonaristas. Para Guidi, foram 4 mil pessoas. Jessé vai ao ataque contra Vaguinho
O PL realizou uma convenção na medida do gigantismo que assumiu em Criciúma. “Sou o mais veterano de convenções aqui. Nunca vi uma desse tamanho”, garantiu o ex-vereador Itamar da Silva, um dos coordenadores da campanha de Ricardo Guidi a prefeito.
Ao final do evento que superlotou a Associação Imbralit, na noite desta sexta-feira (2), Guidi arriscou que havia 4 mil pessoas no local. De fato, quem tentou entrar no salão em certa hora teve muitas dificuldades.
A convenção que confirmou a candidatura de Ricardo Guidi a prefeito teve como pontos altos, além do discurso do próprio, a fala do governador Jorginho Mello.
“Vocês confiam em mim?” perguntou. “Eu quero apresentar o candidato a vice-prefeito do Guidi, que é o Acélio Casagrande”, disparou, perto do minuto 4 do seu discurso. Assim, em um instante, Jorginho fechava a porta da majoritária para o MDB, se ainda havia alguma dúvida sobre a chapa pura. “Essa é a chapa que não tem que dar explicações. É a vontade popular, o Acélio é um homem trabalhador, um homem preparado”.
O governador lembrou de Altair Guidi, ao citar a viúva dele, a ex-senadora Sandra Zanatta Guidi. “O Altair, aquele cara porreta, que sabia fazer política, era amigo dos amigos, e o Ricardo herdou dele o direito de servir. É um menino humilde, dedicado, trabalhador, cumpridor do seu dever”.
E Jorginho cutucou. “Não adianta forçar pesquisa nem mentir”. E, ao destacar a parceria entre PL, Republicanos e PRD em torno de Guidi e Acélio, afirmou que “tem outros partidos torcendo, e que vão votar no Guidi”.
Sobre isso, Itamar da Silva garantiu ter visto circulando entre os tantos que lotaram o espaço da convenção lideranças filiadas a PP, MDB, PDT e até do PCdoB. “Muitos que não estão na nossa coligação formalmente, candidatos de outros partidos que podem estar com outros no santinho mas que vão votar no Ricardo”, definiu.
Em seu discurso, Ricardo Guidi também mencionou isso, citando o Novo. “Agradeço aos candidatos a vereador do Novo. Não coligaram oficialmente conosco, mas a maioria absoluta dos seus candidatos a vereador estão conosco”.
Sobre a surpresa da noite (não tão surpreendente assim), que foi o anúncio de Acélio vice por Jorginho, Guidi contou à Rádio Cidade em Dia, logo após a convenção, que ele e o governador “combinaram isso no palco, com a convenção já rolando”. Acélio disse que não sabia, e ficou surpreso. Sua reação demonstrou isso, tanto que poucos minutos antes, em seu discurso, o agora candidato a vice colocou-se ao dispor para a majoritária, mas disse que a chapa ficaria em aberto “por negociações com outros partidos”. E, embora assumindo a condição de vice, e acreditando na palavra do governador, insistiu depois da convenção, em entrevista à Rádio Cidade em Dia, que a conversação com outros partidos, em especial o MDB, continuaria até segunda-feira.
Entre os discursos de deputados, chamou a atenção a fala de Jessé Lopes. Com sua forma física elogiada por Jorginho Mello (“ele tá fazendo bastante academia”, disparou o governador, provocando risos da plateia), Jessé foi quem mirou mais objetivamente no principal concorrente de Guidi, Vaguinho Espíndola (PSD).
“Renovação não é com quem foi candidato pelo PDT, nem com partido que tem ministério e faz parte do governo Lula”, disparou. Fui até o deputado depois da convenção ouvir dele detalhes dessas referências, e ele confirmou. “O Vaguinho foi candidato a vereador pelo PDT em Treviso, em 2000. E o PSD, partido dele, tem ministério e faz parte do governo da esquerda”, explicou. Ficou clara a estratégia, Jessé é quem, por seu tom habitual, deve elevar o tom crítico em relação ao principal concorrente.
“O Ricardo é o candidato do Bolsonaro. Vai ser uma luta difícil. Vamos enfrentar a máquina, vamos enfrentar a herança de um bom governo e um bom prefeito”, disse, relacionando Clésio Salvaro sem citá-lo nominalmente. “Mas Criciúma quer renovação”, completou.
Outro momento de êxtase da convenção foi quando, nos telões, foram expostos vídeos de apoio de Michele e, em especial, de Jair Bolsonaro. No vídeo, o ex-presidente cita Ricardo Guidi, agradece o apoio dos criciumenses e pede união em torno da candidatura do PL.
Sobre o PL, outro fato que ficou claro: a ênfase que Jorginho Mello, enquanto presidente estadual, quer dar às chapas puras. O lançamento de Acélio ao lado de Guidi é apenas uma prova de tantas. Havia no ambiente ao menos dois candidatos do 22 na região que terão vices do PL: Juninho Venturini, de Balneário Rincão, e Gelson Padilha, de Orleans.
Onde coliga, Jorginho tem posto olhar clínico aos aliados. É o caso de Içara. A prefeita Dalvania Cardoso também estava na convenção de Guidi e terá um vice do PSD, Alex Michels, depois de muita conversa entre Jorginho e o deputado Júlio Garcia. Em Forquilhinha, também na noite desta sexta, o PP fez a convenção que lançou Marilda Casagrande para vice de Geovane de Godói, decisão respaldada por Jorginho e que será referendada na convenção do PL neste domingo.
Mas onde o PL puder ter chapa pura, como o caso de Criciúma, Jorginho prefere. E assim ele ensaia a supremacia do 22.
E teve trilha sonora a grande convenção do PL. Ao fundo, uma animada canção tendo Ricardo Guidi por tema principal (a musiquinha não cita Acélio) foi usada à exaustão. Outro momento de destaque foram o discurso de Jefferson Monteiro, presidente do Republicanos, que entregou uma bandeira de Criciúma para Guidi e garantiu que o seu partido “não hipotecou tempo de TV nem CNPJ, mas sim a força de um partido que está organizado e forte”.
Causou frisson, ainda, a apresentação dos 36 candidatos a vereador da coligação, 18 do PL e 18 do Republicanos.
Ricardo Guidi e Acélio Casagrande saíram ainda mais fortes da convenção. Empurraram tremenda responsabilidade à concorrência e assumiram protagonismo. Resta saber se manterá a força. Se mantiver, a chapa torna público o dito favoritismo dos bastidores.