Denis Luciano
Futebol e política juntos e separados no acesso do Caravaggio
Presidente Moisés Spillere foi cotado para vice-prefeito pelo PSDB, é o primeiro presidente gay no futebol do Brasil e capricha na habilidade política para viabilizar o clube
Fundado em 1970, vitorioso no futebol amador e profissional desde 2021, o Caravaggio Futebol Clube completará 55 anos em 2025 estreando na elite de Santa Catarina. A façanha é uma enorme vitória esportiva, mas que carrega uma carga de organização, garra, ousadia e, claro, política.
Caravaggio já tentou ser município. Nos anos 90, um movimento emancipacionista chegou à Alesc para separar o distrito da sede, Nova Veneza. PIB havia de sobra, não é de hoje que a prosperidade reina no lugar que, curiosamente, chamou-se Morro da Miséria nos primórdios da colonização.
Mas faltavam habitantes, para sorte de Nova Veneza. Hoje, são cerca de 5 mil, a grande maioria nem lembra (nem pensa mais) nessa história de emancipação. Pensam, muito, em Nossa Senhora de Caravaggio, com seu majestoso Santuário. Pensam em política, gostam muito. E pensam nos parentes, já que poucas famílias reúnem, por seus sobrenomes, as árvores mais frondosas dos numerosos ramos de descendentes de italianos.
E pensam no Caravaggio Futebol Clube. A paixão do distrito fará uma jornada épica entre os grandes clubes de Santa Catarina. Nesse universo acolhedor que o Caravaggio tem, futebol e política se separam, mas se misturam também.
A começar pelo presidente. Moisés Spillere é um jovem dedicadíssimo. Vem de uma geração de filhos e netos de antigos diretores do Caravaggio que encararam a empreitada de tornar o Azulão profissional. Alguns dos “velhos” temiam e torciam o nariz a certa altura, mas certamente hoje estão orgulhosos.
Moisés já foi reconhecido em veículos de repercussão nacional como o primeiro presidente LGBT de um clube de futebol no Brasil. Ele encara a situação com total normalidade e não encontra qualquer dissabor no ambiente, embora o machismo em tese impere no universo do futebol.
O jovem e dinâmico presidente é filiado ao PSDB. Foi cotado até há pouco para ser candidato a vice-prefeito, dentro de outra tradição das eleições em Nova Veneza: alguém do distrito tem que estar na chapa, para a candidatura ter sucesso. Moisés chegou a pensar no assunto, mas o Azulão falou mais alto e ele preferiu, para sorte do Caravaggio, seguir na jornada, agora vitoriosa.
Mas Moisés aproveitou o trânsito político também para viabilizar as melhorias que o Estádio da Montanha requeria. O gramado novo, plantado neste ano, foi resultado de emenda do deputado federal Ricardo Guidi, de R$ 1 milhão. Antes, Guidi encaminhou R$ 300 mil para os novos vestiários e a conclusão do muro do estádio, que foram vitais para a estreia no profissionalismo jogando em casa.
O próximo passo, a instalação da iluminação, está orçada em R$ 1 milhão, e também terá importante impulso de recursos oriundos de emendas de deputados.
Algumas provas que a política gira em torno do futebol no Caravaggio e, no fim das contas, ajuda.