Connect with us
SCTODODIA

SCTODODIA

Networking ou mau-caráter?

Gustavo Pereira
Foto: Divulgação

Gustavo Pereira

Networking ou mau-caráter?

Networking e sua relação com a ética e a saúde mental

Publicidade

“Estar sempre pensando no que suas relações cotidianas podem abrir portas para você é estar em networking continuamente. No passado, esse comportamento era visto como mau caráter.” -Luiz Felipe Ponde.

Uma palavra que está muito na moda entre os coaches e marketeiros é o Network, algo que pode ser traduzido como “rede”. O que vamos discutir aqui é até que ponto é Network ou mau-caratismo e, é claro, como essa questão se relaciona com a saúde mental.

Começarei trazendo o conceito de modernidade liquida de Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. Neste campo de estudos nós, os pós-modernos, acabamos sendo mais voláteis, com propósitos que mudam e se esvaziam, enquanto os modernos passavam anos em uma empresa, com ideais quase imutáveis. Para Bauman, os pós-modernos, em seu estado de “liquidez”, criam relações diferentes, algo chamado de “comunidades de guarda-roupas”. Segundo o autor, “as comunidades guarda-roupas são reunidas enquanto dura o espetáculo e prontamente desfeitas quando os espectadores apanham os seus casacos no cabide”. A relação líquida possui um tempo limitado, podendo durar o período de uma festa ou de uma partida de futebol –dois exemplos de espetáculos- depois esses laços são desfeitos. Assim, é uma relação criada momentaneamente para satisfazer os anseios efêmeros dos sujeitos.

O Network não deixa de ser uma comunidade de guarda-roupas, na qual sempre tem um interesse ou a possibilidade de deixar uma janela aberta. Neste caso, se a pessoa no futuro construir algo ou estiver em algum lugar de destaque, ela então lembrará de você e te beneficiará de alguma forma. Note que no Network não se pensa na pessoa, e sim no que ela pode prover, pois o sujeito ali é um intermediário entre você e algo que pode lhe beneficiar – é um egocentrismo quase que patológico induzido pela economia. Para mim, quem pensa apenas em Network é um mau-caráter, mas, por óbvio, estamos vivendo em um país capitalista e pequenas doses de Network são necessárias para colocar comida na mesa.

Para mediar o entendimento sobre esse Network, vou tentar introduzir um pouco mais sobre os escritos de Bauman. Para o autor, é nomeado de “face” o indivíduo como ele realmente é, suas pulsões e seus hábitos. Já as “máscaras” que os indivíduos adotam buscam moldar traços pessoais, lapidando o comportamento para que, em determinada situação, a pessoa seja melhor aceita – em minhas palavras – para que a pessoa possa fazer seu Network.

Algo muito parecido que podemos encontrar na psicologia é a nomenclatura “persona” de Carl Jung, que são personalidades que assumimos em nossas vidas cotidianas. Para este autor, uma pitada de persona pode ser saudável, porém, ela pode ser muito idealizada para o sujeito. Assim, acaba existindo uma confusão entra a persona e o sujeito, já que, se esta for muito idealizada e lapidada pode confundir o “eu” do “eu criado”.

Agora, o que esses dois autores têm a nos dizer sobre o que essa jornada de duplas personalidades pode nos levar? Para Bauman “as máscaras não são confiáveis como as faces, pois podem ser postas e tiradas, escondem tanto quanto (se é que não mais que) revelam”. Segundo o autor, algumas máscaras não podem ser tiradas totalmente, sempre sobra resquícios dessas interpretações de papéis, afetando (em minhas palavras) nosso próprio caráter.

Para Jung, essa dualidade de persona pode causar neuroses e conflitos de identidade, já que começa a se misturar o eu e a persona. Depois que lapidamos a persona, qualquer conflito contra ela se torna um ataque muito grande o indivíduo, porque essa criação foi idealizada do jeito mais perfeito que conseguíamos pensar, então essa não separação é como um ataque ao nosso eu mais “perfeito” e idealizado.

Vocês podem se perguntar: então é questão de tempo para o mau-caratismo se tornar patológico? Não posso afirmar isso, mas existe seus riscos; até mesmo outros pensadores, sociólogos e psicólogos já chegaram a essa conclusão. Existe uma questão econômica por trás deste Network e, veja, não estou falando para você se desligar do mercado de trabalho, porém, precisamos entender os riscos e nos conscientizar de nossas personas. Esse é um ponto importante para Jung: entender a diferença de você e a persona que você adota.  Mas, caso já exista essa dissociação da realidade, a terapia vai te ajudar nessa jornada.

Espero que eu tenha ajudado e lhe mostrado outro ângulo sobre este assunto. Se sinta à vontade para entrar em contato: Gustavo Pereira 
Continue lendo
Topo