Cultura
Atores e cineastas prestam homenagens à David Lynch
Diretor, conhecido por Twin Peaks e Veludo Azul, faleceu aos 78 anos
Criativo, visionário e destemido. Original e inspirador. Enigmático e intuitivo. Ícone. Esses foram alguns dos muitos adjetivos utilizados por cineastas, atores e atrizes para descrever David Lynch, diretor que faleceu nesta quinta-feira (16) aos 78 anos.
Artistas prestaram suas homenagens nesta quinta e sexta ao cineasta, considerado um dos mais originais da história do cinema norte-americano. Conhecido por obras como Twin Peaks, Cidade dos Sonhos e Veludo Azul, o diretor fez do surrealismo a sua marca – um recurso, de certa forma, para traduzir visualmente a complexidade do ser humano.
Kyle MacLachlan, ator que trabalhou com Lynch em filmes como Duna e Veludo Azul, mas que é principalmente conhecido pelo papel principal em Twin Peaks, prestou a sua homenagem ao diretor – um amigo, como ele mesmo descreveu.
“42 anos atrás, por razões além da minha compreensão, David Lynch me tirou da obscuridade para estrelar seu primeiro filme de grande orçamento. Claramente, ele viu algo em mim que nem eu mesmo reconhecia. Eu devo toda a minha carreira, e devo dizer minha vida, à sua visão.
O que vi nele era um homem enigmático e intuitivo, com um oceano criativo pulsando dentro de si. Ele estava conectado a algo que o resto de nós pode apenas sonhar em conhecer.
Nossa amizade floresceu em Veludo Azul e Twin Peaks, e sempre o vi como a pessoa mais autenticamente viva que já conheci.
David estava sintonizado com o universo e com sua própria imaginação da melhor e mais humana maneira possível. Ele não tinha interesse por respostas, porque entendia que são as perguntas que nos fazem o que somos. São o nosso ar.
Enquanto o mundo perdeu um artista inigualável, eu perdi um amigo querido, que imaginou um futuro para mim e me permitiu mergulhar em mundos que eu jamais conceberia sozinho.
Eu consigo vê-lo agora, me esperando em seu quintal, com um sorriso enorme, um abraço apertado e aquela voz deliciosa. Falaríamos sobre café, a magia do inesperado, a beleza do mundo… e riríamos muito.
O amor dele por mim, e o meu por ele, veio do destino cósmico de duas pessoas que encontravam o melhor de si próprias uma na outra.
Sentirei a falta dele mais do que os limites da minha fala conseguem expressar, e que os limites do meu coração conseguem aguentar. Meu mundo é muito mais cheio porque o conheci, e muito mais vazio agora que ele se foi.
David, você me mudou para sempre, e sempre serei o seu Kale. Obrigado por tudo”
Naomi Watts foi uma das atrizes que trabalhou com Lynch e que publicou uma homenagem ao diretor em suas redes sociais. A atriz estrelou Cidade dos Sonhos, um dos longas mais memoráveis da carreira de ambos.
“O meu coração está quebrado. Meu amigo Dave… o mundo não será o mesmo sem ele. A mentoria criativa que ele me deu foi realmente poderosa. Ele me colocou no mapa. Ele me deu uma entrada para o mundo que eu estava tentando invadir há mais de uma década, falhando em testes o tempo todo. Finalmente, eu me sentei na frente de um homem curioso, que irradiava luz, falava palavras de outra era, me fazia rir e me sentir confortável. Como ele conseguiu ‘me ver’, sendo que eu estava tão escondida, tinha perdido vista de mim mesma?!
Não foi só a arte dele que me impactor – a sua sabedoria, humor e amor me deram um senso especial de crença em mim mesma que nunca tinha acessado antes.
Casa um dos nossos momentos juntos era carregado com uma presença que eu raramente via ou sabia. Provavelmente porque, sim, ele vivia em um mundo alterado – um mundo do qual eu tinha muita sorte de ser um pedacinho pequeno. E David convidava todos para espiar esse mundo através de suas histórias incríveis, que elevaram o cinema e inspiraram gerações de cineastas ao redor do mundo.
Não posso acreditar que ele se foi. Estou em pedaços, e para sempre serei grata pela nossa amizade. Estou gritando no megafone: Vá com Deus, amigo Dave! Obrigada por tudo.”
Autor de clássicos do cinema como Tubarão, Indiana Jones e Jurassic Park, Steven Spielberg foi outro cineasta que prestou homenagem à Lynch. Foi, inclusive, em um filme de Spielberg onde David fez a sua última aparição nas telonas: interpretando o lendário John Ford em Os Fabelmans, uma cinebiografia de Steven.
“Eu amava os filmes do David. Blue Velvet, Mulholland Drive e The Elephant Man o definiram como um sonhador único e visionário, que dirigiu filmes com uma sensação artesanal”,
“Conheci o David quando ele interpretou John Ford em The Fabelmans. Aqui estava um dos meus heróis — David Lynch interpretando um dos meus heróis. Foi surreal e parecia uma cena saída de um dos próprios filmes de David. O mundo vai sentir falta de uma voz tão original e única. Seus filmes já resistiram ao teste do tempo e sempre o farão”.