Já faz um tempo que não vemos uma franquia de terror nascer e morrer diante dos nossos próprios olhos. Aqueles que puderam viver a efervescência criativa do gênero slasher dos anos 70 e 80 assistiram Sexta-Feira 13, Halloween e A Hora do Pesadelo serem mortos e ressuscitados inúmeras vezes em tela, mas não acabaram presentados com um fim propriamente dito. Sem dar margem para um renascimento, ao menos por enquanto, Invocação do Mal nadou na direção contrária e ganhou um ponto final – mas o sabor da despedida é bem diferente da apresentação.
Em cartaz nos cinemas desde o começo de setembro, Invocação do Mal 4: O Último Ritual é o capítulo final da história do casal Warren. Ed e Lorraine estão em decadência de popularidade e já há alguns anos afastados da rotina de demonologistas quando são confrontados com um desafio do passado. Uma força ignorada no início das suas carreiras volta à tona para atormentar a sua filha, a agora adulta Judy, e uma família da Pensilvânia.
Assim como boa parte das franquias que optam por um filme de encerramento antes que as coisas fujam do controle, Invocação do Mal sofre com o desafio do adeus. A missão de pôr um ponto final em uma história iniciada em 2013, com o ótimo e influente longa dirigido por James Wan, passa por um fechamento emocional que em 2025 não envolve somente quatro obras, mas, sim, alguns muitos outros spin-offs derivados desse universo.
Episódio especial do podcast Mais de Um Filme por Semana, sobre Invocação do Mal 4O resultado é que Invocação do Mal 4 parece confiar muito mais na despedida do que necessariamente no seu próprio filme. O longa dedica muito mais tempo se perdendo em núcleos que o levam à mensagem de adeus aos Warren do que focando naquilo que há de mais forte no terror: a imagem e os seus efeitos. Com isso, abre mão de momentos potencialmente bons para te lembrar a todo o momento que a história daquele casal alçado ao status de cultura pop na última década está chegando ao fim.
Isso faz com que em diversos momentos o filme soe como uma obra da Marvel, onde a autoralidade do diretor (nesse caso, o norte-americano Michael Chaves), seja soterrada pela obrigação de fazer parte de um universo cinematográfico. O cineasta, que no terceiro filme da franquia se mostrou extremamente apático, aqui apresenta momentos de terror que caminham entre a beleza e o assustador, mas cujo tempo é sequestrado pela “necessidade” da despedida.
A atmosfera da casa e a empatia pela família atormentada, tão bem construídas nos dois primeiros filmes da franquia, são relegadas ao segundo ou terceiro plano em O Último Ritual. Nem mesmo o melodrama dos Warren e o carisma concedido aos personagens por Patrick Wilson e Vera Farmiga alcançam o patamar dos primeiros longas.
E mesmo assim, no meio de todo esse ritmo descompensado, é surpreendente como Michael Chaves consegue entregar cenas de impacto, carregadas de símbolos católicos e imageticamente muito bem trabalhadas – mas que não ganham o tempo ou confiança necessária para tal. Fica a impressão de ter visto um cineasta agora consciente da qualidade do seu trabalho, mas podado pela obrigação.
Nota: 3 / 5
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Invocação do Mal 4: O Último Ritual está disponível nos cinemas. Confira o trailer: