Paulo Monteiro
Longlegs: o filme de terror mais incômodo do ano já está nos cinemas
Filme de Osgood Perkins conta com Nicolas Cage e Maika Monroe no elenco
Chegou na última quarta-feira (28) aos cinemas de Santa Catarina aquele que considero como o filme de terror mais incômodo do ano. Com direção de Osgood Perkins, Longlegs: Vínculo Mortal vem dividindo opiniões desde as suas primeiras exibições no exterior. Está longe de ser uma unanimidade entre crítica e público. Mas, mesmo assim, é destaque em um agosto repleto de estreias nas telonas.
O filme acompanha Lee Harker, uma jovem detetive do FBI que é escalada para investigar uma série de assassinatos misteriosos nos Estados Unidos. Todos os crimes investigados possuem características em comum: aconteceram em ambiente familiar, foram provocados pelo pai ou mãe em famílias cujo filho ou filha tem como data de nascimento o dia 14 de algum mês. Em todas as cenas restavam cartas codificadas e assinadas por uma mesma pessoa: Longlegs.
Inspirado por thrillers policiais do século passado, como O Silêncio dos Inocentes e Seven: Os Sete Crimes Capitais, Longlegs felizmente é capaz de ser mais do que uma mera inspiração de gênero. Osgood Perkins crava a sua marca no longa (o quarto de sua carreira de diretor) ao se valer da estranheza da trama e de seus personagens para causar o incômodo citado no título e no começo deste texto.
Particularmente, não ficava tão positivamente incomodado com um filme de terror desde que assisti O Babadook. O longa australiano me incomodou muito ao dar características disformes para uma figura teoricamente infantil e, com isso, falar sobre o luto materno. Longlegs não atinge temas com esse grau de profundidade, mas causa desconforto, sobretudo, pela atmosfera.
O longa funciona graças à construção de uma atmosfera estranha e constantemente ameaçadora. O filme existe em uma linha muito tênue entre o sobrenatural e o racional, de forma que o espectador, mesmo que provocado o tempo inteiro a escolher um lado para seguir o seu raciocínio, nunca se sinta realmente certo sobre por onde ir.
A direção de Perkins é como se fosse aquela luz baixa e amarelada de um abajur que ligamos para ler um livro de noite. Ela nos coloca em uma espécie de transe de atenção, de forma que o diretor consegue nos envolver por completo em uma atmosfera que pode ser incômoda, mas é praticamente impossível de desviar os olhos. É como se fosse confortável se sentir incomodado.
Existe, também, uma sensação de constante ameaça construída pelo som e imagem de Longlegs. Por não deixar claro se está tratando de algo real ou sobrenatural, o filme caminha por esse limbo que é assustador por si só. Não apela para jumpscares ou algo do tipo, mas lhe transmite um sentimento de que existe algo em tela para além do que claramente está sendo mostrado.
Muito do desconforto gerado pelo filme também se deve a Nicolas Cage. O ator, que interpreta o próprio Longlegs, realiza um trabalho de voz espetacular, com um timbre que arrepia de tão incomum. Perkins faz bom uso desse vocal para construir todo o nosso medo e expectativa até o momento em que revela o rosto do personagem. Maika Monroe, atriz que interpreta a também enigmática detetive, também funciona enquanto fio condutor pelas entranhas do macabro.
Mas, se por um lado a atmosfera e as situações macabras reveladas pelas investigações tornam Longlegs tão interessante e hipnótico, por outro, Perkins parece não saber o que fazer para concluir tudo isso. O filme funciona na dúvida que é gerada até os momentos de revelação. Mas, quando estes acontecem, parecem não serem suficientes para uma conclusão. O diretor se sai bem em envolver o espectador, mas o conduz para um abismo.
Nota: 4 / 5
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