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Megalópolis: a caótica fábula de Coppola e suas dúvidas sobre a humanidade

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Megalópolis a caótica fábula de Coppola e suas dúvidas sobre a humanidade 4
Foto: reprodução

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Megalópolis: a caótica fábula de Coppola e suas dúvidas sobre a humanidade

Filme está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil deste a última semana

Aos 85 anos de idade, Francis Ford Coppola é protagonista de uma carreira que alterna entre o sucesso e a frustração. Mais de seis décadas dentro da indústria cinematográfica, e a direção de algumas das obras mais importantes do século passado, como O Poderoso Chefão (1972) e Apocalypse Now (1979), lhe conferiram notoriedade e maturidade o suficiente para poder refletir sobre a arte que ele produz e a jornada por esta percorrida. No entanto, não lhe tornaram imune às dúvidas que pairam sobre o presente e o futuro do cinema – e como esse futuro pode estar refém dos caminhos da nossa própria sociedade. O resultado desses questionamentos estão materializados em Megalópolis (2024), a audaciosa e caótica fábula de um dos grandes diretores norte-americanos de todos os tempos, que chegou na última semana às salas de cinema de todo o Brasil.

Compreender o caos de Megalópolis fica um pouco mais fácil quando conhecemos o talvez igualmente caótico cenário que antecedeu o seu lançamento. O filme começou a ser pensado por Coppola ainda nos anos 80, quando o diretor vivia o auge do seu prestígio dentro da indústria. No entanto, enfrentou uma série de obstáculos nas décadas seguintes para que pudesse finalmente sair do papel. Mudanças de orçamento, reformulação de casting e até mesmo o 11 de Setembro impediram a continuidade do projeto. Em 2019, o diretor decidiu bancar US$ 120 milhões do próprio bolso para que o longa pudesse existir. Em sua estreia no Festival de Cannes de 2024, as recepções foram negativamente mistas: houve quem amou, houve quem odiou. A recepção, no geral, fez com que a obra enfrentasse dificuldades também para ser distribuída nos cinemas – tanto que penou e muito até ser comprada por uma distribuidora nos Estados Unidos e no Brasil.

Mas o que resta de um filme quando ele, depois de já ter sido considerado impossível de ser filmado e ter passado praticamente quatro décadas em desenvolvimento, finalmente chega aos cinemas? No caso de Megalópolis, o resultado é uma obra incomum, que faz da teatralidade e megalomania motivos de afastamento e fascínio em doses quase iguais, tanto para o público que assiste quanto para os personagens que fazem parte do mundo criado por Francis Ford Coppola.

O filme acompanha Cesar Catilina (Adam Driver), um megalomaníaco e egocêntrico arquiteto que quer reconstruir Nova Iorque a partir de uma ideia considerada utópica onde humanidade e cidade possam se expandir de maneira orgânica. Para isso, no entanto, ele precisará lidar com os interesses de figuras ricas e ambiciosas da sociedade e convencer o prefeito de Nova Roma (Giancarlo Esposito) do possível sucesso de sua própria utopia.

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Megalópolis é o que acontece quando um diretor com décadas de história e amor pelo cinema, carregado de dúvidas sobre a própria existência e da sociedade onde está inserido, pode criar uma obra sem nenhuma amarra sequer. Livre do interesse de um estúdio para tratar sobre os assuntos que mais o incomodam, Coppola decide refletir em paralelo sobre a sua carreira, a indústria cinematográfica e a humanidade, mirando no caos que existe entre o clássico e o moderno.

O filme é resultado de um diretor inquieto, que, com mais de 80 anos, não está certo sobre o que deixou para o mundo e nem para onde o cinema está caminhando. O presente não necessariamente lhe agrada, fazendo com que Coppola enxergue nos Estados Unidos a autodestruição de uma sociedade semelhante à ocorrida com o Império Romano, que teve a sua queda ancorada em uma crise de poder e moralidade.

O cineasta faz da inquietude de seu personagem principal a sua própria. Ambos são figuras insatisfeitas com condições da atualidade – Coppola com o momento do cinema, Cesar com a decadência de Nova Iorque. Atormentados por algo do passado – o diretor pelo sucesso nunca repetido de seus primeiros filmes, o arquiteto pela morte de sua esposa. E que sonham em deixar algo para as próximas gerações – Francis busca um caminho cinematográfico menos podado pela indústria, enquanto Catilina almeja uma sociedade organicamente bem sucedida. Os dois, no entanto, enfrentam o dilema do tempo – um deles por já estar próximo dos 90 anos, o outro por ter o poder de controlá-lo.

Política, poder e moralidade funcionam como pilares do filme. Peças estruturais que sustentam personagens constantemente confrontados pelos seus próprios ideais. Em determinado momento, o longa se ancora em uma disputa eleitoral onde os candidatos surgem sem grande organização, alçados à esse status como representação orgânica dos medos e desejos daquela comunidade. Vencerá aquele que for mais convincente – mas a que custo?

Megalópolisprovavelmente não será um divisor de águas na história do cinema, mas certamente não cabe em uma análise pautada somente pelas categorias existentes no Oscar. O filme parece estar mais preocupado em propor uma experiência atípica e exagerada que possa refletir o caos político, moral e cinematográfico da sociedade norte-americana e as dúvidas de seu diretor, do que seguir convenções que possam aproximar obra e espectador. Por fim, soa como um manifesto de alguém que entende muito sobre cinema, mas não está verdadeiramente certo para onde está indo.

Nota: 4.5 / 5

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Megalópolis está disponível nos cinemas. Confira o trailer:

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