Paulo Monteiro
Twisters resgata um tipo de blockbuster que a nova geração pouco viu no cinema
Filme não tem o mesmo charme de seu antecessor, mas funciona enquanto bom entretenimento
Houve uma época em que longas sobre destruição eram uma constante dentro do cinema de Hollywood. Aeroporto foi pioneiro nessa ideia de filme-catástrofe em 1970; Inferno na Torre também se aventurou pelo mesmo caminho, e com resultados ainda melhores, em 1974. Desde então, esse “gênero” passou a ditar muito do que era produzido nos Estados Unidos em termos de blockbuster, cada um mais criativo do que o outro em seu objetivo máximo: mostrar o mundo (ou o EUA, em sua imensa maioria), em ruínas.
Acontece que os filmes-catástrofe, tão populares nas décadas de 80 e 90, quase não existem mais enquanto blockbusters. Se tornaram um “gênero menor” dentro de Hollywood, não tão apreciados ou capazes de mobilizar um grande público pela “simples” ideia de destruição. Diante desse cenário, Twisters (2024) surge como um respiro para um tipo de filme que uma nova geração pôde ver, de certa forma, apenas do sofá de casa.
Sequência do sucesso de 1996, Twisters funciona como uma espécie de resgate aos filmes-catástrofe no cinema hollywoodiano. É lançado em uma época de escassez da categoria. Um blockbuster com cara de blockbuster, tanto na sua ideia e execução quanto na escolha do seu elenco: atores do momento e em ascensão, como Glen Powell (Top Gun Maverick e Todo Menos Você) e Daisy Edgar Jones (Normal People e Um Lugar Bem Longe Daqui).
Dirigido por Lee Isaac Chung (Minari: Em Busca da Felicidade), o filme acompanha dois grupos de caçadores de tornados em Oklahoma. Kate Carter (Daisy Edgar Jones) retorna à função depois de anos afastada do ofício, devido a uma tragédia envolvendo tempestades ainda na adolescência. Tyler Owens (Glen Powell) faz da caça ao evento climático o entretenimento de seu público nas redes sociais. Os dois, no entanto, se unem na busca por uma solução que acabe com os tornados assim que formados.
A comparação com Twister (1996), quase impossível de não ser feita, talvez seja o sucesso e a ruína de Twisters quase que em pé de igualdade. Isso porque, ao mesmo tempo em que o novo longa funciona dentro de uma ideia nostálgica, para quem pôde assistir o filme da década de 90 tanto no cinema quanto em casa, também peca por ser, em sua essência, pior que o seu antecessor.
Twisters não tem o mesmo charme do longa que o antecede, por mais que seja uma boa homenagem para este. Ainda que tenha personagens carismáticos, capazes de despertar empatia no público, a interação entre eles não funciona tão bem quanto a de Bill (Bill Paxton) e Jo (Helen Hunt) no filme de 1996 – que fazem do cenário destruidor da passagem de um tornado palco para um drama conjugal igualmente caótico.
O filme de Lee Isaac Chung vai por um caminho diferente, prezando muito mais pelo impacto da destruição do que necessariamente pelo drama de seus personagens. Kate e Tyler existem enquanto salvadores, empenhados em descobrir como acabar com os tornados. A relação entre os dois, mesmo que tenha uma certa química, acaba por ser um eterno quase, sem nunca se mostrar realmente interessante.
Mesmo assim, Twisters consegue ser um tipo raro dentro de um gênero quase extinto de filmes-catástrofes. É engraçado, sobretudo pelo carisma de Glen Powell, e visualmente bem resolvido. Mesmo com toda a exploração da destruição, funciona como uma obra de conforto, um entretenimento dos bons que Hollywood um dia já apostou com maior força – e que, nos dias de hoje, se mostra como uma alternativa interessante em meio aos filmes de super-heróis.
Nota: 3 / 5
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Twisters está disponível nos cinemas. Confira o trailer: