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Vitória: filme com Montenegro traz peso do lar e da voz

Cultura
Vitória filme com Montenegro discute peso do lar e da voz
Foto: Reprodução / Sony Pictures

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Vitória: filme com Montenegro traz peso do lar e da voz

Longa conta a história real de uma idosa que enfrentou o crime no RJ

Dona Nina (Fernanda Montenegro) já havia passado em pelo menos duas delegacias quando decidiu recorrer à delegada que viu dar entrevista na televisão. A idosa vinha clamando incessantemente por ajuda, pedindo para que as autoridades pusessem um fim à criminalidade que via e ouvia pela janela de seu apartamento, onde mora sozinha. O fato é que ela não quer se mudar, mas também não aguenta mais conviver com o barulho de tiros que por vezes entram pela vidraça. Por fim, está envolta em uma discussão sobre o peso do lar e da sua própria voz.

Em cartaz nos cinemas de todo o Brasil desde a última quinta-feira (13), Vitória conta a história real de Joana da Paz, uma idosa que, com uma câmera na mão, decidiu combater a criminalidade que via todos os dias pela janela de seu pequeno apartamento em Copacabana, no Rio de Janeiro. O longa, dirigido por Andrucha Waddington e Breno Silveira, ocupou o topo das bilheterias brasileiras em seu primeiro fim de semana de estreia, em um “rescaldo” deixado por Ainda Estou Aqui às produções nacionais.

Ainda que se encontre na caixa das biografias dos desconhecidos, ou dos não famosos, o filme tem em sua personagem principal o rosto mais unânime do audiovisual brasileiro (para o bem, ou para o mal). Fernanda Montenegro é o pilar de toda a carga dramática e carismática de Vitória e, no auge dos seus 95 anos, e toda a fragilidade que a idade lhe confere, prova o porquê de ser tida como um dos maiores nomes do cinema nacional. Interpreta uma figura que, no longa, é ignorada pelos demais – mas hipnótica ao público.

Vitória filme com Montenegro discute peso do lar e da voz 2

Foto: Reprodução / Sony Pictures

O filme de Andrucha e Breno funciona sobretudo nos pequenos detalhes da rotina de uma idosa no Rio de Janeiro. O dilema dos preços em uma mercearia, a carne que descongela aos poucos na pia, as estampas do apartamento e a xícara de porcelana que, mesmo com a borda lascada, é a preferida de Nina, conferem alma e sentimento ao filme. Mas esbarram, no entanto, na pouca atenção que o longa dá ao seu melhor cenário: o lar.

Ainda que acene a uma espécie de Janela Indiscreta de Hitchcock, onde uma pessoa vê o mundo e o crime por detrás da janela de um apartamento, o filme nunca se permite ser tão inventivo nesse espaço. É pouco o tempo e a criatividade que a dupla de diretores dá para o que Nina enxerga pela lente de uma câmera entre as persianas o que ela deseja denunciar.

Ainda assim, existe uma dolorosa discussão no filme sobre a ideia de lar, da conquista de um imóvel próprio (sonho de gerações e gerações de brasileiros) e da necessidade de abandono do local por ausência do Estado no combate ao crime. Por que eu preciso sair da minha casa quando não sou eu o culpado? Nesse contexto, o longa também trabalha na relativização da voz de uma idosa que, mesmo com provas, é ignorada pela figura frágil que representa.

De tão fantástica que é, Fernanda Montenegro faz com que todo o filme orbite ao seu redor. O resultado disso, no fim das contas, é de não haja nada de tão positivo para além da sua presença e das discussões que a obra levanta. A criminalidade, que deveria ser o contraponto da existência da personagem principal, é representada de maneira, por vezes, problemática – com pessoas pretas, sem história, do outro lado de uma calçada.

Nota: 3 / 5

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Vitória está disponível nos cinemas. Confira o trailer:

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