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Concórdia, o campeão improvável da Copa SC
Galo do Oeste conquistou a competição estadual pela primeira vez e vai disputar a Copa do Brasil na próxima temporada
O título do Concórdia é a prova viva de que não é necessário investir cifras milionárias para se tornar campeão. Basta organização e trabalho bem feito.
Não é segredo as dificuldades financeiras enfrentadas pelo Galo do Oeste. No início do ano, a diretoria precisou vender o ônibus do clube para quitar dívidas e garantir sua participação na elite do futebol catarinense. A campanha na Série D foi modesta, sem grandes pretensões, e como esperado, a classificação não veio.
Após a competição nacional, o clube se reorganizou nos bastidores para disputar a Copa Santa Catarina. Mais uma vez, as expectativas eram tímidas.
É claro que todo clube entra em campo para ser campeão, e as pessoas que trabalham no dia a dia da equipe precisam acreditar nisso. Mas, sinceramente, o Galo do Oeste não figurava entre os favoritos nem para a segunda fase. Eu mesmo o colocava entre os possíveis últimos colocados. Errei.
Os argumentos para subestimar o Concórdia pareciam sólidos. A maioria dos reforços tinha menos de 23 anos, oriundos de estaduais da segunda divisão. Um dos poucos experientes era o volante Evandro, retornando ao clube. Já o técnico Jailson Zatta, de 40 anos, com um único trabalho como treinador principal pelo União Frederiquense, ainda precisava mostrar seu valor.
Mas o Concórdia surpreendeu. Desde as primeiras rodadas, contrariou as previsões mesmo com as limitações. Foram cinco jogos consecutivos sem sofrer gols, chegando a liderar a fase classificatória. A partir daí, a percepção sobre o time mudou. Na primeira fase, sofreu apenas uma derrota, para o Hercílio Luz, então apontado como favorito. Normal.
Nas semifinais, o adversário foi a Chapecoense, no Clássico da Linguiça. Na Arena Condá, o cenário parecia irreversível após Perotti marcar dois gols no primeiro tempo e ampliar no início da etapa final. Porém, Jailson Zatta mostrou suas credenciais ao mexer no time e mudar a história do confronto. Do banco, saíram João Lenger e Pedro Alves para diminuir o placar. No último minuto, Lenger deu uma assistência para Pedro Alves, mantendo vivas as esperanças do Galo.
No jogo de volta, o Concórdia cresceu. Com um sonoro 4 a 1, reverteu o placar e carimbou sua vaga na final com gols de Ryan, Willian Alves, João Lenger e Péricles.
Se o Hercílio Luz estivesse na decisão, seria apontado como grande favorito ao título e com méritos. A campanha era boa. Mas, como o “se” não entra em campo, quem garantiu a vaga na decisão foi o Marcílio Dias. O time de Itajaí chegou na final mesmo sem vencer há seis partidas e com ressalvas aos trabalho do técnico Márcio Coelho.
Por isso que desde a definição da final, eu apontava o Concórdia como favorito — embora o técnico Jailson Zatta tenha negado esse rótulo em bate-papo conosco no Central do Esporte. Compreensível, afinal, do outro lado estava o atual bicampeão.
O empate por 1 a 1 em Itajaí foi um bom resultado. No jogo decisivo, no Domingos Machado de Lima, o time da casa fez valer o mando apesar da pressão dos visitantes em determinados momentos. Aos 40 minutos da etapa inicial, após jogada de pé em pé, Péricles marcou o gol do título. No segundo tempo, o Galo segurou a vantagem até o apito final de Bráulio da Silva Machado.
Foi a vitória do clube com uma folha salarial inferior a R$ 50 mil contra um adversário que investiu para conquistar o tricampeonato consecutivo. Mérito do trabalho de Jailson Zatta, que sai gigante da competição.
Entre os destaques do time, pontuo o incisivo ponta-esquerda Pedro Arthur, de 22 anos. Com base no Flamengo, vindo do União Frederiquense, o camisa 11 foi o grande nome desta Copa SC. Menciono ainda o experiente zagueiro Willian Alves (no clube desde 2022), o volante Gaudêncio, ex-Passo Fundo, o meia Péricles, remanescente da Série D, e o ponta-direita João Lenger, cria da base.
Sobre o peso da vaga na Copa do Brasil, disputar uma competição nacional como essa pela primeira vez não só traz a premiação de R$787,5 mil pela participação na primeira fase, como amplia as possibilidades do clube em diversos aspectos, como atrair mais patrocínios, reforços, aumentando até mesmo as chances de sonhar passar de fase para engordar o caixa.
O Concórdia estará no pote F e vai enfrentar times do pote B. Os possíveis oponentes são: Ceará, Coritiba, Vitória, Sport, Criciúma, Vila Nova-GO, Operário-PR, Ponte Preta, Brusque e Sampaio Corrêa-MA.
https://twitter.com/concordia_ac/status/1857892275495317533
Antes de olhar para Recopa Catarinense, Estadual e Copa do Brasil, espero que o primeiro pensamento para a próxima temporada seja a troca do gramado do Domingos Machado de Lima. Foi o ponto negativo desta grande final.