As Havaianas e o pé esquerdo

Campanha publicitária da marca provoca reação negativa ao misturar ironia política e estratégia comercial em um cenário de polarização.

Kaue Locks

Publicado em: 22 de dezembro de 2025

3 min.
As Havaianas e o pé esquerdo. - Foto: Divulgação

As Havaianas e o pé esquerdo. - Foto: Divulgação

Essa semana, a Havaianas lançou uma campanha publicitária com a atriz Fernanda Torres, dizendo para não entrarmos em 2026 com o pé direito, e sim com os dois pés. Ora, resolveram brincar de engenharia social e provocar metade da população brasileira em um momento de grande polarização política, utilizando ironia política dentro de um processo comercial. Arriscado, e o tiro pode sair pela culatra.

O novo jargão de que “empresas têm que se posicionar” parece ter entrado na mente dos publicitários e, ao invés de focarem em reforçar a marca e as qualidades do produto, atacaram em um ponto que as pessoas definitivamente não querem saber quando vão comprar um chinelo. Empresa que já é líder não precisa lacrar, precisa continuar ganhando mercado e consolidar a sua posição contra os concorrentes.

Essa provocação calculada, com verniz intelectual da Zona Sul do Rio de Janeiro, foi muito bem ilustrada utilizando a atriz Fernanda Torres, que, apesar de ser uma excelente profissional, vem se tornando um símbolo dos moralistas do politicamente correto, onde toda a iluminação e a sabedoria vêm de artistas que abraçam criminosos e pedem para a Amazônia ser salva de agricultores malévolos. Balela.

Esse processo faz parte da batalha cultural idealizada pelo comunista italiano Antonio Gramsci desde os anos 20, onde, ao invés de os socialistas tomarem o poder através das armas, gradualmente e por meio da cultura mudariam a sociedade. Por essa teoria, as pessoas se tornariam socialistas sem perceberem que viraram socialistas, mudando o seu jeito de pensar, de agir e até as palavras que devem ser ditas, ou não.

Diante do comercial sem propósito, o mercado respondeu com uma enxurrada de comentários negativos e outra avalanche de engajamento para as empresas concorrentes. Pelo menos ficou o aprendizado para todo mundo: empresa não é ONG e não precisa emitir opinião; empresa precisa dar lucro para poder pagar os seus funcionários, remunerar o empresário e se autossustentar.



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