O Brasil seria o “Brasil” se ainda fosse uma monarquia?
O Brasil comemora 135 anos da Proclamação da República. Mas, e se aquele 15 de novembro de 1889 nunca tivesse acontecido?
Por
Kelley Alves
O Brasil comemora 135 anos da Proclamação da República. Mas, e se aquele 15 de novembro de 1889 nunca tivesse acontecido? E se tivéssemos mantido a monarquia e Dom Pedro II, em vez de pendurar a coroa, tivesse deixado um herdeiro no trono? Pega um café e vem comigo imaginar como seria o Brasil nos dias de hoje com uma pitada de… Majestade!
Um Brasil com um rei no lugar do presidente
Nas monarquias constitucionais modernas, como o Reino Unido e o Japão, o rei ou a rainha é uma figura simbólica, que não governa de fato. Eles têm um papel de representar a unidade nacional enquanto o poder político é exercido por um primeiro-ministro eleito. Por aqui, em vez de brigas acaloradas entre candidatos de direita ou esquerda à presidência, talvez estivéssemos discutindo se o “Rei Dom Pedro IV” deveria usar uma capa dourada ou azul no desfile de 7 de setembro. É, seria divertido…
Se tivéssemos um monarca, será que ele teria ajudado a apaziguar os ânimos nos últimos anos? Pense em momentos como as explosões registradas em Brasília. Um discurso do rei, pedindo calma e união, poderia ter ajudado a desarmar os ânimos? Ou teria, nos tempos atuais, virado combustível para memes na internet.
A economia seria um mar de rosas?
Parece tentador pensar que monarquias vivem em prosperidade infinita. Afinal, países como Noruega, Dinamarca e Suécia têm economias de dar inveja, mas calma: isso não é culpa da coroa. Esses países investem pesado em educação, saúde e políticas públicas eficientes.
O Brasil, por vez, enfrentou crises econômicas recentes, como a pressão inflacionária que voltou a impactar o preço dos alimentos em 2024 e os debates sobre o aumento do déficit fiscal. Será que um monarca teria ajudado? Muito provavelmente não. Não precisa nem de muito esforço para chegar a conclusão que o que faria diferença seriam instituições mais fortes e lideranças competentes – algo que, convenhamos, independe de ter um rei ou um presidente.
Corrupção: com ou sem coroa
Ah, mas se tivéssemos um rei, não teríamos corrupção, certo? Mas que ideia é esta? Basta lembrar que a Espanha, também uma monarquia constitucional, viu a família real envolvida em escândalos nos últimos anos. No Brasil, a república já nos trouxe casos como o Mensalão, a Lava Jato… Bom, nem precisa ir muito longe. Recentemente, as investigações da Operação Caronte transformaram Clésio Salvaro e outros 20 acusados em réus.
Com um monarca, talvez os holofotes fossem para outros alvos: um primeiro-ministro corrupto, governadores desonestos… Ou, quem sabe, algum príncipe enrolado em contratos públicos. Corrupção é uma questão de caráter e uma fiscalização séria e efetiva. Não está na conta da coroa ou da faixa presidencial.
Cultura e tradição: mais glamour?
Imagine a seguinte cena: o casamento real de Dom Pedro IV, transmitido ao vivo e batendo recordes de audiência. Ou então, turistas lotando o Rio de Janeiro para ver a troca da guarda imperial em frente ao Palácio de São Cristóvão. Manter a monarquia poderia ter dado ao Brasil um charme extra, como acontece com o turismo no Reino Unido.
Mas, vamos combinar que a república trouxe algo que a monarquia talvez não teria fomentado da mesma forma: a diversidade cultural. O Brasil republicano deu espaço para movimentos populares e manifestações como o samba, o carnaval e a capoeira se tornarem símbolos do país. Talvez com uma monarquia, nossa identidade cultural fosse um pouco mais elitizada e menos… brasileira.
E se?
No fim das contas, imaginar o Brasil como uma monarquia é um exercício divertido, mas a verdade é que o sucesso de um país depende muito mais da eficiência das políticas públicas e da força das instituições do que de quem ocupa o cargo de chefe de Estado – seja ele um rei ou um presidente.
Um monarca poderia trazer mais estabilidade em momentos como as explosões de Brasília, as tensões do início do ano e as crises econômicas? Talvez. Mas o fato é que, com ou sem coroa, continuamos sendo um país cheio com desafios, potencial e boas histórias para contar.