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O que deu errado no Hercílio Luz?
Time tubaronense disputará a segunda divisão em 2026
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Por
Caio Maximiano
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A SAF do Hercílio Luz acumula mais um vexame no comando do clube tubaronense, desta vez, o pior deles. Rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Catarinense após uma campanha desastrosa, o Leão do Sul somou apenas seis pontos e deve terminar na lanterna da competição. O rebaixamento foi confirmado de maneira dramática, com derrota para o Criciúma por 1 a 0 no Aníbal Costa, sob forte chuva e com a expulsão do capitão Geninho logo aos três minutos de jogo.
No apito final, um silêncio pesado tomou conta do estádio. Nas entrevistas, jogadores e o técnico Paulo Baier foram unânimes: a falta de planejamento foi determinante para a queda. Mas onde, exatamente, o Hercílio Luz errou?
De 2023 para 2024: cadê o planejamento?
Até então único treinador do Hercílio Luz na era SAF, Raul Cabral foi demitido após a eliminação nos pênaltis para o Marcílio Dias Copa Santa Catarina. Junto com ele, o executivo de futebol Felipe Gil também deixou o clube. Para muitos, um erro, visto que Cabral era mais do que um técnico, sendo o responsável pelo desenho do projeto, financiado pelo empresário Vinícius Gaidzinski. Para focar no campo, a engrenagem foi confiada à Gil. Outros trataram a demissão como o fim de um ciclo. Tudo bem, desde que as reposições fossem à altura. O que não aconteceu.
O cargo de diretor de futebol foi entregue a Pedro Smania, ex-coordenador de base de Cuiabá e São Paulo. Um nome sem experiência na função em times profissionais e com forte ligação com a agência de atletas da própria SAF.
Antes mesmo de ser anunciado, Smania já buscava um substituto para Cabral. Após negociações frustradas com treinadores experientes, como Luís Carlos Winck, o clube fechou com Felipe Moreira, ex-Ponte Preta.
Moreira era experiente como auxiliar, mas ainda engatinhava como treinador, tendo apenas algumas passagem como treinador efetivo da Macaca. O trabalho não encaixou, agravado pelas apostas malsucedidas da diretoria nas contratações que pouco contribuíram e pelas lesões que assolaram o elenco.
Foi então que Alexandre Lopes assumiu e conseguiu uma recuperação no Estadual, garantindo a classificação para a segunda fase. Mas o time terminou mal na tabela e teve que encarar o Criciúma, favorito ao título. O resultado? Eliminação e ausência de calendário nacional para 2025 – algo que Raul Cabral havia conquistado duas vezes. Aqui, vale salientar que o descenso já poderia ter sido confirmado até mesmo no ano passado. Não seria surpresa. Foi uma das poucas vezes que a incompetência teve a sorte como refúgio.
Na Série D, Lopes foi demitido logo após a estreia. Outro erro. Se a diretoria não confiava no técnico, por que não dispensá-lo antes? Com a troca, a preparação para a competição foi jogada no lixo. Eduardo Souza chegou para o restante da Série D e comandou o time na Copa SC. Uma das poucas escolhas acertadas da gestão pós-Cabral, Souza tinha um bom retrospecto no Barra, mas encontrou um elenco limitado. O acesso não veio, nem mesmo a classificação para a segunda fase.
O planejamento da Copa Santa Catarina foi um dos raros acertos do departamento de futebol. As contratações foram bem feitas e um elenco competitivo, que não chegou à decisão devido a um erro capital de arbitragem.
De 2024 para 2025: os mesmos erros do passado
Apesar da evolução na Copa SC, os problemas voltaram antes mesmo do início da temporada 2025. Eduardo Souza deixou o clube por “motivos particulares”, mas nos bastidores, há quem diga sobre a falta de organização e coerência da direção.
A busca por um novo treinador se tornou um desafio. Com apenas uma competição nos três primeiros meses do ano, muitos recusaram a oferta. Apenas um aceitou: William Araújo.
A aposta poderia ter dado certo, mas os indícios apontavam o contrário. William tinha apenas 31 anos e pouca experiência em times profissionais. Seu modelo de jogo não se encaixou com o elenco. Outro problema foi a preparação física. A pré-temporada teve carga reduzida, o que, segundo Paulo Baier, deixou os jogadores mal condicionados. O treinador teve também sua culpa, mas com uma parcela muito menor.
Nas entrevistas após a derrota para o Criciúma, os próprios jogadores confirmaram: faltou planejamento para a temporada 2025. Mas quem assume a culpa?
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Leão do Sul teve dois técnicos durante o Catarinense 2025. Fotos: Bianca Coan/HL e Divulgação/Botafogo
Futuro incerto
A SAF trouxe investimentos, pelo menos dentro de campo, mas o castelo desmoronou mais rápido do que foi construído – um roteiro parecido com o que viveu o Atlético Tubarão.
Agora, o futuro do Hercílio Luz é incerto. O aluguel do Aníbal Costa começa a valer no próximo ano, e se o terreno for requisitado de volta? O clube não se preparou para isso. As questões ambientais envolvendo a Epagri atrapalham, mas acredito que a falta de interesse também.
Nos próximos meses, o time ficará inativo, voltando apenas na Copa Santa Catarina. Mas diante de tantas incoerências, começo a duvidar até dessa participação.
O torcedor, mais uma vez, é quem paga a conta.
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Aníbal Costa foi vendido por R$11,7 milhões no ano do centenário do clube. Foto: William Lampert/HLFC
Bônus da incompetência
Base encerrada
A base sempre foi um pilar do Hercílio Luz e gerou frutos financeiros importantes após os investimentos da SAF. As duas participações na Copinha, em uma deles revelando atletas como Gregory e Raí, renderam uma compensação financeira ao clube, que juntamente com a ida de André para o Grêmio, pagou tudo que havia sido investido no time até então. Fechar as portas para jovens talentos e profissionais é mais um erro na gestão da SAF. Sem base, sem futuro. Qual é o objetivo agora?
Funcionários de saída
O clube também perdeu diversos profissionais nos últimos anos. Um dos exemplos é o fim do departamento psicossocial, essencial para a base — também encerrada — e que poderia ter sido útil neste momento de pressão psicológica para evitar o rebaixamento.
Redes sociais bloqueadas
Para evitar manifestações contrárias dos torcedores, o Hercílio Luz limitou os comentários em suas redes sociais. “Ordens de cima”, justificou Pedro Smania. Muitos já pediam a saída do dirigente. Coincidência?
Sem poder comentar e expressar sua opinião, o torcedor hercilista, já cansado dos resultados ruins, se sente afastado do clube. Por que pagar mensalidade ou ir aos jogos se não pode nem cobrar melhorias nas redes sociais? O clube pertence aos torcedores. Os gestores passam.
São muitos questionamentos para poucas respostas. O reflexo do abandono do clube se deu nas coletivas de apresentação e pós-rebaixamento concedidas por Paulo Baier, ambas sozinho. Quem deveria, sequer apareceu.