Cotidiano
Acompanhante Perfeita: um terror divertido, ainda
A combinação entre terror e ficção científica costuma ser uma oportunidade e tanto para explorar os medos de uma geração para com o futuro. Será que um dia seremos (literalmente) consumidos pela TV? David Cronenberg refletiu sobre isso lá no início dos anos 80, com Videodrome (1983). É possível que a minha Alexa se rebele contra mim? Oração a Vácuo (2024) responde essa pergunta. O que pode dar errado em um relacionamento entre um homem e uma máquina? Bom, é aí que entra Acompanhante Perfeita (2025).
Nos cinemas desde a última quinta-feira (06), o longa dirigido por Drew Hancock acompanha um grupo de amigos que decide passar um fim de semana em uma cabana isolada. Iris (Sophie Thatcher) conhecerá pela primeira vez os amigos de seu namorado, Josh (Jack Quaid). Mas a revelação de que um dos presentes é, na verdade, um robô, transforma uma estadia tranquila em um caos absoluto.
Acompanhante Perfeita é um exercício divertido, ainda que extremamente exagerado, sobre os medos e receios que o avanço tecnológico nos causa. O cenário fictício de relações entre humanos e robôs, explorados em diversas obras desde o século passado, alcançou uma vaga na realidade na medida em que pessoas estão declaradamente se apaixonando e “namorando” inteligências artificiais. E isso abre espaço para novas imaginações.
Hancock, que faz aqui sua estreia na direção de um longa-metragem, aproveita esse cenário já não mais distópico para passear por essa discussão. Se abraça ao conceito da revolução das máquinas para pincelar, de maneira muito bem humorada, o estranhamento e incômodo que esse cenário tecnológico nos provoca em algum grau. De quebra, adiciona camadas (nesse caso em específico) felizmente superficiais sobre assuntos pertinentes como misoginia, relacionamentos tóxicos e objetificação das mulheres.
O longa funciona bem em uma montagem dinâmica que ajuda a ditar o tom do humor proposto. A boa atuação de Sophie Tatcher, que aos poucos vai construindo o seu nome no terror, contribui para que tenhamos uma importante empatia a mais por sua personagem. A canalhice de Jack Quaid, ensaiada em The Boys (2019-) e confirmada em Pânico 5 (2022), cai bem em um papel cujas inspirações neo-machistas são claras.
O erro de Acompanhante Perfeita está, no entanto, em ser protocolar demais. Apesar do ritmo dinâmico, o longa é refém de uma sequência de acontecimentos previsíveis. É como se o diretor, ao tentar conectar uma cena com a outra, não assumisse risco algum e seguisse uma cartilha um tanto quanto engessada. Visualmente, também, se mostra pouco criativo – mesmo lidando com dois dos gêneros de maior potencial nesse aspecto.
Nota: 3 / 5
Acompanhante Perfeita está disponível nos cinemas. Confira o trailer abaixo, mas saiba que a experiência tende a ser melhor quando você não o assiste: