Cotidiano
Beto Martins apresenta balanço da Missão na China
Ao todo, foram 12 agendas cumpridas no país asiático, das quais do secretário destacou três em entrevista na Rádio Cidade de Tubarão
O Secretário estadual de Portos, Aeroportos e Ferrovias, Beto Martins foi entrevistado pela Rádio Cidade de Tubarão, na manhã desta terça-feira, 24, para fazer um balanço da missão de Santa Catarina na China, realizada ao lado do governador Jorginho Mello
No início da entrevista, foi abordado sobre o aumento das linhas aéreas no Aeroporto de Jaguaruna. Devido ao fuso horário, já era noite no país asiático.
“A Latam, né, cumprindo o compromisso, desde hoje voando agora 10 vezes por semana e a partir de outubro serão 12, ou seja, a partir de outubro serão dois voos diários durante a semana e um voo diário sábado e domingo. Isso é muito expressivo, tratando-se de Jaguaruna, isso é mais de 70% de aumento de oferta. Os preços das passagens, eu continuo sistematicamente consultando e vendo que os preços estão muito acessíveis se comparados com 3 meses de antecedência”, analisou o secretário.
“Tem passagem aí de R$170 a R$180 a perna, ou seja, R$350 um ida e volta. Então eu espero que realmente o Sul de Santa Catarina entenda a importância de adotar o aeroporto como seu, como a nossa campanha que nós destacamos aí na região. Porque também você sabe muito bem que se no final do ano a Latam chegar para nós e disser, olha, eu não consegui um share (custo da operação) mínimo nos nossos aviões para pelo menos pagar a escala, nós não poderemos ter a continuidade”, complementou.
“Então isso é uma notícia boa. A outra notícia boa é que estamos indo embora, daqui a pouquinho, meia-noite, estaremos meia-noite e quarenta embarcando de volta para o Brasil. E eu já pedi para a família me esperar com arroz e feijão que eu estou com muita saudade do Brasil”, confessou Martins.
Sobre a Missão na China, o secretário mostrou-se bem satisfeito. “Não tenha dúvida que para mim a agenda da China foi muito rica”, .
“Nós viemos, sim, como pauta principal aqui na China, a pauta da China foi bem diferente da pauta do Japão. A pauta no Japão estava mais direcionada à defesa dos interesses da indústria da avicultura, da suinocultura catarinense, que estava, né, nós temos um erro, que nós entendemos que é um erro, porque na verdade quando tem uma gripe aviária, um caso, no Mato Grosso, a Ásia para de comprar do Brasil inteiro, né, e a missão tinha por objetivo também no Japão, não é diferente na China, mostrar que nós precisamos ver o Brasil de maneira mais regional. Santa Catarina tem um controle muito grande sobre essas questões, é ponta no Brasil, é melhor, certamente o Estado tem a maior e melhor tecnologia, e é o que a gente queria mostrar aqui, lá no Japão e na China”, explicou.
“Mas aqui na China, sim, tecnologia, logística foi o tema fundamental. Eu vou fazer aqui de 12 agendas que participei, vou destacar três. A primeira foi Harbin, uma cidade média da China com 10 milhões de habitantes, maior que Santa Catarina”, detalhou.
A falta de agendas internacionais no passado
“E lá tem duas coisas assim, primeiro que Santa Catarina tem que sair fora da casca. Nós temos que perder essa mania de achar que o mundo conhece Santa Catarina. O que estou vendo aqui na China, como já vi em Nova Iorque e Washington, é que esses anos todos que foram perdidos de falta de agenda internacional, fizeram com que sim se perdessem muitas coisas”, analisou.
“Enquanto nós não estávamos fazendo, os outros estavam. O governador de São Paulo, o governador do Paraná, o governador de Minas, de Goiás, todos os anos estão fazendo agendas e buscando investimento em parcerias internacionais. Santa Catarina felizmente resgata agora isso e eu hoje consigo enxergar com clareza a importância disso” comentou.
“As três agendas que eu me refiro, a primeira foi em Harbin, conhecemos a Avic, também nós pensamos que conhecemos o mundo. Você sabia que a Avic, a fabricante de aviões, helicópteros aqui da China, muito no campo militar inclusive, mas também na aviação civil, eles têm só 500 mil funcionários. Eles são três vezes o tamanho da Airbus”, comparou.
“Nós achamos que a Airbus é uma grande empresa, mas é um terço dos empregados que tem essa empresa, essa fabricante aqui na China. Nós fomos lá especificamente ver um avião, o governador Jorginho, como todo mundo sabe, colocou como prioridade, colocou como meta fazer aviação regional em Santa Catarina, sendo que no Brasil ela faliu, nós não podemos mais esperar sentado, porque no Brasil a aviação regional faliu. A Azul e a Voepass eram as últimas companhias que tinham aviões para atender aeroportos menores, atenderem regiões menores e não tem mais”, esclareceu.
“Então, se nós não fizermos algo diferente, não vamos ver nascer em Santa Catarina uma aviação regional. Então nós temos dois projetos apresentados para o Estado. O governador quer esse ano ainda apresentar o projeto que nós vamos escolher, que nós vamos definir como projeto para Santa Catarina e um deles conta com esses aviões que são fabricados aqui na China, um avião para 18 lugares, mais piloto e copiloto, ou seja, um total de 20 mil pessoas a bordo”, projetou.
“É um avião realmente muito interessante e muito melhor do que, por exemplo, o que fazia a Azul, a Azul Conecta, com o Grand Caravan, que é um avião pequeno para nove lugares. Então nós viemos aqui conhecer esse tipo de equipamento, foi uma visita muito rica e que tem muita ligação com a nossa secretaria. A segunda que eu destaco, a CRRC, simplesmente a maior fabricante do mundo de equipamentos ferroviários, trilhos, vagões, metrô, metrô de São Paulo, duas linhas do metrô de São Paulo, duas grandes linhas estão sendo feitas por eles”, continuou.
“Então nós fomos lá, conhecemos o produto deles, estabelecemos um termo de cooperação e parceria para que eles venham para Santa Catarina entender o nosso projeto, entender aquilo que nós estamos fazendo de projeto nesse momento. Você sabe, vou te dar aqui um spoiler, nós estamos hoje em um projeto de ferrovia que liga quatro portos catarinenses. Itajaí-Navegantes, São Francisco e Itapoá”, emendou.
“Esse projeto já está com 75% concluso, é um projeto executivo que aproveitou o projeto básico da antiga litorânea. São 64 quilômetros, estamos falando de 300 milhões de dólares, isso é muito viável, isso é muito factível. E esse projeto, agora nós estamos todos os engenheiros reunidos para pensar em uma mudança, porque nasceu a Viamar”, contou.
“Então nos parece mais lógico levar esse projeto da ferrovia para ser construído ao lado da Viamar, porque senão nós vamos ter que fazer dois traçados, duas desapropriações, enfim, um custo muito mais elevado. Se unirmos num único projeto, há uma tendência natural de baixar custos e baixar também as complexidades com licenças ambientais, com desapropriações e etc. Então nasceu aqui uma parceria, nós vamos receber a CRCC e a CRIC em Santa Catarina já no mês de julho, na segunda semana de julho, uma programação de visita para eles poderem se inteirar dos nossos projetos”, seguiu.
“E também fomos ao Ministério de Comércio da China, e lá vi um ministro absolutamente surpreso, impressionado com os números que nós mostramos de Santa Catarina, com potencial industrial, com a qualidade de vida proporcionada por uma menor taxa de desemprego do país, uma taxa de crescimento de PIB. Santa Catarina cresceu nos últimos 10 anos, Milton, 48%. O Brasil cresceu 23%, nós crescemos o dobro, mas nós viemos dar um recado à Ásia, aos chineses, aos japoneses, porque de cada dois frangos consumidos aqui, um e meio é feito em Santa Catarina”, informou.
“É produzido em Santa Catarina. E eles têm uma grande preocupação com segurança alimentar. E o que hoje impede Santa Catarina de dobrar a sua produção de frango e suíno é a ineficiência logística de estradas e ferrovias”, apontou.
“Nós temos seis portos, vamos ter até o final do ano o sétimo porto, está saindo o TGSC lá na Babitonga, que é o terminal graneleiro de Santa Catarina, para mais 8 milhões de toneladas de grãos. Porém, estamos completamente colapsados no sistema rodoviário, rodovias 101, 280, 470, e simplesmente não temos nada acontecendo no setor ferroviário. Precisamos acordar, porque a falta dessa eficiência logística já está tirando de Santa Catarina a indústria alimentícia”, destacou.
“Eu quero te dizer que a Aurora já tem extensão das suas fábricas no Paraná, a JBS e a BRF já estão fazendo projetos no Mato Grosso. Por quê? Porque o principal insumo da indústria da avicultura e da suinocultura é o milho. É o milho”, indagou.
“E o milho está vindo do Mato Grosso e de Goiás para Santa Catarina de caminhão, com frete caro e estrada ruim. Isso torna o nosso produto internacionalmente menos competitivo. Então, para nós salvaguardarmos esses interesses de Santa Catarina e também os interesses da segurança alimentar aqui na Ásia, nós íamos dizer aos chineses, precisamos da parceria, precisamos de financiamento internacional, precisamos de obras de infraestrutura”, explicou.
“Em ferrovia, em rodovia, a Via Amara, evidentemente, é o nosso produto que nós estamos vendendo, os interessados no mundo, é que é a solução disso. Santa Catarina pode dobrar a sua capacidade produtiva, Santa Catarina pode dobrar a sua movimentação portuária, mas para isso precisa urgentemente rever seus projetos, precisa otimizar projetos na área de ferrovia e rodovia”, analisou.
“O que nós mostramos aos chineses também foi que além deles poderem ser nossos parceiros na construção, no financiamento, na PPP (Parceria Público Privada), na operação de ferrovia, etc., eles têm que ver o Brasil, em Santa Catarina especificamente, como um ponto de ligação deles com o ocidente. Por quê? Você sabe que hoje tem uma grande taxação nos Estados Unidos por produto chinês”, demonstrou.
“Se o chinês fabricar esse avião, por exemplo, em Santa Catarina, ele pode exportar isso para o Mercosul com imposto zero, ele pode, por exemplo, e óbvio que eu faço isso? Não podia ser diferente? Sim. Nós temos uma ZPE (Zonas de Processamento de Exportação)que vai sair do papel, porque está passando para a iniciativa privada”, contou.
Sobre a parceria comercial com a China
“Eu tenho vendido muito isso, porque você imagina os chineses podendo trazer todas as peças de montagem da China para Santa Catarina com o imposto zero na entrada e depois com o imposto zero na saída para exportar para todo o mundo, porque eles podem fornecer para os Estados Unidos através de Santa Catarina com uma taxa de importação muito menor, porque o Brasil não tem a taxação que tem a China diretamente, por exemplo. Então foram discussões muito calorosas nesse sentido. Hoje de manhã nós tivemos uma reunião com a Cinetruck, é uma história antiga, foi ou não foi, agora está muito perto de ir, é uma fábrica de caminhões que quer fazer, é a segunda maior do mundo, caminhões, máquinas, equipamentos pesados, mas quer fazer no Brasil uma fábrica de caminhões, quer produzir no início, na primeira etapa, 10 mil caminhões por ano no Brasil e depois crescer organicamente”, detalhou.
“Nós também hoje discutimos de manhã durante duas horas e meia todos os benefícios possíveis que Santa Catarina poderia oferecer para eles irem para Santa Catarina. Tem muita coisa que pode ser feita, que pode acontecer, que pode beneficiar Santa Catarina, mas para que isso aconteça nós temos que sair fora da casca, nós temos que parar de achar que todo mundo, que o mundo inteiro está vendo que Santa Catarina é esse Estado maravilhoso. Se não sair para vender, meu irmão, ninguém vai comprar”, desabafou.