Cidadania
Quem é a icônica Céia Maravilha???
Há mais de 30 anos ela tirou a figura da drag-queen dos guetos da conservadora SC e continua fazendo a festa
É difícil alguém do eixo Itajaí-Balneário Camboriú que, pelo menos uma vez, não tenha ouvido falar da Ceia Maravilha. O personagem, parido pelo professor Maurício Bento, despontou nas noites LGBTQIAPN+ do início da década de 1990. No entanto, não ficou restrita a guetos, como ocorria com as drags na época.
O personagem, que na época se chamava Céia Pentelhuda, em pouco tempo conquistou seu espaço e passou a ser contratada para festas particulares, aniversários e casamentos de socialites, para luxuosos restaurantes e também para casas noturnas da então badalada Barra Sul. De lá para cá, ela nunca mais saiu de cena.
A época do ano que ela mais ferve é no Carnaval de Itajaí, inclusive, Céia é uma figura pra lá de carimbada no Largo do Mercado Público e sempre festejada em suas triunfais aparições. E neste carnaval, por duas vezes, ela levou Fernanda Torres para Itajaí. Poderosa né???
Céia fez história na noite alternativa de Itajaí, Balneário Camboriú e Florianópolis. No entanto, seu criador é “peixeiro da gema”: Maurício nasceu no bairro São João e cresceu no bairro São Judas. Portanto, mais itajaiense, impossível. O personagem foi concebido, gestado e criado no bairro São Judas de, juntos, Céia e Maurício se tornam imbatíveis. O escracho é a marca registrada da dupla.
Maurício é graduado em Estudos Sociais, com especialização em História, mas também frequentou cursos de formação em teatro nos idos anos de 1980. Integrou um grupo de teatro infantil e dos palcos para a noite LGBTQIAPN+ foi um pulinho. Já fora dos palcos, Maurício leciona história para alunos do ensino fundamental e médio. Milhares de estudantes, não apenas de Itajaí, mas de diversas cidades da região, compartilharam de seus conhecimentos.
Estética diferenciada e humor apurado
“Acredito que a Céia Pentelhuda [hoje Céia Maravilha, em homenagem ao ícone gay Elke Maravilha] fez história porque veio com uma estética diferenciada das drag-queens que se apresentavam na época”, diz Maurício. Isso porque, enquanto as atrizes da cena gay buscavam ao máximo parecerem mulheres e apenas dublavam sucessos da era Disco, Céia era a personificação do escracho. Mais do que isso: foi sinônimo de resistência.
Sua imagem foi Inspirada nas drags Anthony (Hugo Weaving) e Adam (Guy Pearce), e na transexual Bernadette (Terence Stamp), do icônico filme “Priscilla, a rainha do deserto”. E em vez de dublar, ela levava para o palco temas controversos. De forma divertida e com vasto conhecimento e consciência social, abordava sexualidade, política, inclusão e igualdade social.