Cultura
Cinema brasileiro em destaque no Festival de Cannes
O cinema brasileiro se destaca em Cannes 2025 com ‘O Agente Secreto’ de Kleber Mendonça Filho e presença crescente de diretoras
O tapete vermelho de Cannes se prepara para receber uma delegação brasileira otimista. A indicação de O Agente Secreto, do renomado diretor Kleber Mendonça Filho, à Palma de Ouro no próximo Festival de Cannes destaca a crescente relevância do cinema brasileiro, tanto em narrativas históricas quanto em novas abordagens. A temática da ditadura militar, central na obra de Mendonça Filho, remete ao impacto de Ainda Estou Aqui, um sucesso de público que também revisitou este período crítico da história do Brasil.
Em entrevista à Rádio Cidade em Dia, o jornalista e crítico de cinema Chico Fireman, com presença confirmada no festival, compartilhou suas perspectivas sobre o atual momento do cinema brasileiro e suas expectativas para Cannes.
Além de seu trabalho como crítico, Fireman revelou sua incursão no mercado de distribuição cinematográfica. “Sou jornalista, crítico de cinema e, desde o ano passado, também distribuo filmes. Com meu sócio, Michel, adquirimos em Cannes os direitos de Sol de Inverno, exibido na mostra Un Certain Regard, e lançamos no Brasil no início deste ano. Nosso objetivo é repetir a experiência, buscando filmes autorais para um circuito alternativo no Brasil. Paralelamente, como crítico e cinéfilo, compartilho minhas análises sobre os filmes que conseguir assistir, já que a programação é intensa”, destacou.
A competição pela Palma de Ouro, com 22 produções em disputa, exige atenção redobrada dos críticos. “A prioridade para quem cobre Cannes é assistir aos filmes da competição principal. Para jornalistas com a obrigação de cobrir entrevistas e coletivas, a agenda é ainda mais extensa. Nas minhas duas participações anteriores, consegui ver todos os filmes da competição e muitos outros. A expectativa para este ano é a mesma”, afirmou Fireman.
O crítico também fez questão de destacar um marco significativo na seleção deste ano: a representatividade feminina na direção. “A seleção de 2025 é notável, com um número inédito de sete diretoras concorrendo à Palma de Ouro, superando o recorde anterior de quatro no ano passado. Embora a igualdade ainda não tenha sido alcançada, o caminho está sendo pavimentado. A lista de diretores em competição também é muito promissora.”
Sobre as chances de O Agente Secreto, Fireman adotou uma postura cautelosa. “É prematuro fazer uma análise aprofundada, já que os filmes ainda não foram exibidos. Cannes tem uma tradição de incluir diretores com histórico no festival, e frequentemente esses nomes figuram entre os premiados. A seleção deste ano é forte, com diretores de grande calibre”, observou.
Ele relembrou a trajetória de Kleber Mendonça Filho em Cannes: “O Agente Secreto marca a terceira disputa de Kleber pela Palma de Ouro, após Aquarius e Bacurau. Retratos Fantasmas também foi exibido, mas fora da competição. Bacurau conquistou o Prêmio do Júri, um dos principais. Resta aguardar o desempenho de O Agente Secreto.”
Fireman analisou ainda o impacto da temática da ditadura militar na obra de Mendonça Filho: “O tema da ditadura está ganhando destaque no cinema mundial, influenciado pelos rumos políticos globais. Ainda Estou Aqui trouxe essa discussão para o âmbito familiar, mostrando o impacto dos regimes autoritários. A inédita parceria de Kleber com Wagner Moura surge em um momento de grande visibilidade para o cinema brasileiro.”
O sucesso de Ainda Estou Aqui foi outro ponto abordado por Fireman, que destacou sua importância para o cenário atual do cinema nacional. “O filme atraiu 6 milhões de espectadores, um número notável para um drama histórico com temática política, rompendo o preconceito que ainda existe em relação ao cinema nacional. A identificação do público com a história e a qualidade da produção foram determinantes para o sucesso.”
Fireman também mencionou o bom desempenho de Ney – O Filme como um indicativo do aquecimento do mercado. “Com Jesuíta Barbosa no papel principal, Ney – O Filme é uma produção de alta qualidade. No primeiro dia de exibição, 50 mil ingressos foram vendidos, um número significativo para um filme brasileiro fora do gênero blockbuster.”
A valorização do cinema brasileiro internacionalmente também foi destacada pelo crítico. “O reconhecimento externo pode influenciar positivamente a percepção do público no Brasil. A comparação entre Wagner Moura e o ator internacional Pedro Pascal exemplifica o carisma do ator brasileiro no cenário global”, observou Fireman.
Um destaque especial na participação brasileira em Cannes será a homenagem ao Brasil no Marché du Film. “O Marché du Film, mercado crucial para negociação de direitos e parcerias, homenageará o Brasil este ano. Isso representa uma maior presença de empresas e profissionais brasileiros, com filmes e projetos buscando parcerias internacionais. Essa é uma grande oportunidade para ampliar a circulação do cinema brasileiro, que, apesar do prestígio, ainda precisa conquistar mais visibilidade.”
Chico Fireman estará ativo no Marché du Film, em busca de novos talentos e produções para o público brasileiro. Ele convidou os ouvintes a acompanharem sua cobertura do festival através de suas redes sociais: Instagram (@filmesdochico), Twitter e Blue Sky (@filmesdochico).
O Festival de Cannes, que ocorrerá de 13 a 24 de maio, promete ser um palco importante para o cinema brasileiro, consolidando um momento de crescimento e reconhecimento tanto no mercado interno quanto internacional. A homenagem no Marché du Film e a participação de O Agente Secreto na competição principal são sinais promissórios de um futuro brilhante para o cinema brasileiro.