Cultura
Documentário conta a história de imigrantes haitianos em Urussanga
Dirigida por Luciano Giordani Schimidtz, obra foi exibida no Cine Goethe
As histórias de vida dos imigrantes haitianos que moram em Urussanga, pequena cidade localizada no Sul de Santa Catarina, foram tema de um documentário exibido na última semana no Cine Goethe – mostra de cinema de rua realizada em terras urussanguenses. Dirigido por Luciano Giordani Schimidtz, o filme Imigran está circulando em escolas do município e, em breve, deverá ser inscrito em festivais.
A obra, de acordo com o diretor, partiu de uma curiosidade pessoal. Luciano relata que faz mais ou menos 10 anos que haitianos começaram a imigrar para Urussanga. Passaram a frequentar as escolas e empresas do município, mas sem nunca perder a ligação com a própria cultura e costumes.
“Eles são pessoas muito reservadas, tímidas. Sempre tive a curiosidade de conhecer melhor essas pessoas, que andavam pela rua falando a língua deles, o crioulo. Sempre que tinha contato com algum haitiano, se mostravam gentis e educados. Achei que, como existem tantos deles, era hora da gente conhecê-los melhor e eles também se apresentarem para nós. Contarem como vivem e quais são os seus sonhos”, disse Luciano.
O motivo da imigração
Os primeiros casos de imigração haitiana em massa para o sul de Santa Catarina aconteceram após 2010, ano em que o Haiti foi atingido por um terremoto que matou mais de 200 mil pessoas. No entanto, segundo Luciano, o motivo da imigração constante tem relação com outro fator: a segurança.
“100% dos entrevistados disseram que o principal motivo da vinda deles para o Brasil e a saída do Haiti foi a questão da violência. O Haiti vive uma epidemia de violência muito grande, incontrolável, onde o Estado não consegue combater o crime. Muita insegurança, taxas de homicídios e assaltos muito elevados”, declarou.
Relatos que emocionaram
Segundo Luciano, foi difícil estabelecer contato com os haitianos urussanguenses no começo. Na medida em que a conversa foi avançando, suas histórias foram sendo contadas. Relatos de pessoas simples, trabalhadoras e perseverantes, que imigraram para Urussanga para ter uma vida melhor e, aos poucos, trouxeram os seus familiares. Aos que continuam no Haiti, os agora moradores do sul catarinense enviam dinheiro.
“Hoje os haitianos já possuem casa e carro. Alguns, em Urussanga, já empreenderam e tem um comércio, são pessoas de muita bravura. Uma das coisas que me fez ter essa ideia do documentário foi a comparação com a imigração italiana na cidade no fim do século 19. Pessoas que vieram para cá, um lugar desconhecido, e começaram do nada. Da mesma forma os haitianos, que vieram para cá sem saber a língua e sem saber onde estavam pisando, mas que hoje possuem filhos brasileiros, frequentam a escola e tem planos para entrar na universidade. É admirável a perseverança deles”, pontuou.
O diretor relatou, ainda, que ficou impressionado e emocionado com alguns relatos dos entrevistados. Luciano participou de uma cerimônia da igreja da comunidade haitiana de Urussanga e disse que, por mais que não tenha entendido nenhuma palavra dita pelo pastor ou cantada pelos fieis, se sentiu tocado pela fé dos que ali estavam. Além disso, também admirou a maneira simples como muitos levam a vida.
“Me impressionou uma entrevista que fiz com um senhor muito simples, que trabalha basicamente para sustentar a família e mandar dinheiro para os pais que ficaram em Porto Príncipe, no Haiti. Perguntei: ‘o que falta na vida do senhor?’. Ele pensou e disse: ‘falta um casaco’. De tudo na vida, de todas as dificuldades, disse que só faltava uma blusa, porque faz muito frio em Urussanga. Uma história simples e pequena, mas muito tocante”, pontuou.