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Fantasmas, cultura e história: conheça os mistérios do Cemitério da Imigração Italiana

Cultura
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Fotos e vídeo: SCTodoDia e Rádio Cidade

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Fantasmas, cultura e história: conheça os mistérios do Cemitério da Imigração Italiana

Túmulos centenários mantém viva a tradição da primeira colônia de italianos do Sul de Santa Catarina

No fim de uma chuvosa tarde, três jovens partiram para um local que reúne histórias, tradição, cultura e também alguns mistérios. Lá já estavam Rosa Maria Jaques e João Tocchetto, um casal conhecido internacionalmente pelos feitos paranormais e pelas caçadas aos fantasmas.

Há quem duvide da presença de energias ou espíritos, mas o Cemitério da Imigração Italiana, localizado na comunidade de Azambuja no interior do pacato município de Pedras Grandes, é um reflexo da rica história da colonização no sul catarinense. E para ajudar a desvendar os mistérios e trazer mais detalhes do local, a equipe de reportagem do portal SCTodoDia em parceria com a Rádio Cidade, esteve no cemitério juntamente com o casal caça-fantasma, que pôde demonstrar como é o seu trabalho e confirmar se há ou não a presença de espíritos que vagam entre as lápides históricas.

Após a autorização municipal na figura do prefeito Agnaldo Filippi (PP) e também do dono da propriedade onde o cemitério está localizado, tiveram início as gravações, carregadas de incertezas e surpresas. Rosa, que se identifica como telepata e afirma conversar com as figuras “do outro mundo”, pediu licença para as entidades para que toda equipe entrasse no cemitério.

O ambiente de calmaria era preponderante enquanto as finas gotas de chuva molhavam o solo, cheio de flores e mata alta. João explicava sobre os aparelhos eletromagnéticos usados nas caçadas enquanto intercalava o assunto técnico com histórias de outras aventuras. Não demorou para que Rosa desligasse os aparelhos e afirmasse que não havia nenhuma presença no local. Ela explica que a presença de uma natureza abundante contribui para o fato de que as energias positivas predominam no local. Vale destacar que as ossadas que permaneciam no Cemitério da Imigração Italiana foram realocadas com a autorização das famílias para o novo cemitério da cidade. “O cemitério é um lugar de dor, sofrimento e saudade. Isso estabelece um elo de comunicação. Aqui não tem corpos e o local não é frequentado para este fim, por isso vemos o predomínio da natureza e não sentimos nada”, explicou a sensitiva.

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Uma canção italiana…

Quando as gravações estavam prestes a terminar, eis que um dos aparelhos começa a apitar, indicando algum tipo de manifestação. João explicou que seus equipamentos, que variam de termômetros até medidores eletromagnéticos, não comprovam a existência de um fantasma, mas é uma forma de se comunicar e pedir manifestações para comprovar as presenças.

Assim que o aparelho tocou novamente, Rosa começou a procurar a figura e tentou estabelecer uma conversa. “Não esperava que tivesse alguém aqui. É preciso ir, amado. Siga o caminho da luz amigo”, foram algumas das palavras que Rosa citou após a suposta presença. Em dado momento, ela parece conseguir algum tipo de comunicação. “Você era pai de quem?”, questionou Rosa, que logo após disse: “Sim, quando você morreu então deveria ter os filhos próximos”. A telepata começou a caminhar pelo cemitério enquanto procurava a lápide ou local exato em que a energia poderia estar concentrada. “Vou fazer o que você quer…”, disse a senhora. Após isso, Rosa alegou que o espírito gostaria de ouvir uma canção italiana, inclusive perguntando para a equipe se alguém sabia falar o idioma. Segundo as explicações dadas, o tal fantasma, não fica perambulando pelo cemitério, e sim aos arredores, sem rumo definido. De acordo com a sensitiva, o Cemitério da Imigração Italiana foi a última lembrança do homem em questão e devido à sua presença no local, um “canal de comunicação” foi aberto.

“A energia dele indica que ele não fica aqui. De lá ele vem, pois a última lembrança dele foi esse cemitério. Quando ele viu gente aqui, ele veio ver se era alguém ligado a ele”, explicou. Após um recado que foi repassado através de Rosa para um dos membros da equipe, as manifestações pararam, assim como o trabalho dos caça-fantasmas no local. “Não ficamos forçando nada, se existe alguma energia ou espírito tentamos explicar e mostrar o caminho de luz, se não existe, não inventamos nada. Esse é nosso diferencial e por isso somos reconhecidos”, explicou João sobre o trabalho feito pelo casal há vários anos.

Sobre o Cemitério da Imigração Italiana

A história do cemitério em Azambuja se converte em um documento, fonte para pesquisas e estudos sobre a história regional e da colonização do século XIX no sul de Santa Catarina. O historiador Paulo Sérgio Osório, professor da Unesc e que atuou no projeto de restauração do cemitério, destacou que no ano de 1877, grandes levas de imigrantes de várias nacionalidades, especialmente italianos, começaram a chegar no território, que passou a ser designado de Colônia Azambuja.

“É sempre bom lembrar que a colônia ocupava uma área muito grande de terras, que ia praticamente do Rio Tubarão ao Rio Mampituba, na divisa do Rio Grande do Sul. Isso do ponto de vista da constituição territorial. A colônia não ocupou necessariamente todo esse território, mas a ideia que se tinha é que o território que poderia ser ocupado era esse”, explicou o professor.

Ainda conforme o pesquisador, os imigrantes eram acompanhados por representantes do governo que auxiliavam nas distribuições das terras e na construção dos primeiros ranchos.Temos o reflexo de toda a história construída pelos imigrantes na atualidade através das tradições, culturas, sobrenomes e locais criados à época e que perduram até os dias atuais. Um deles é o Cemitério da Imigração Italiana, localizado em uma encosta próximo ao centro de Azambuja.

Atualmente em propriedade privada, túmulos e informações sobre diversos grupos étnicos estão muito bem preservados no cemitério. “Também temos os germânicos e lusos, entre outros, que ajudaram a formar a comunidade e região. Então esse local acaba se convertendo em um local significativo de parte da memória da comunidade e consequentemente no município de Pedras Grandes. Parte das memórias ainda estão escondidas nos fragmentos de cada túmulo, necessitando o restauro e preservação”, disse o professor.

“O cemitério representa parte da vida da comunidade e torna-se útil e necessário por sua simbologia, aspectos religiosos, históricos, artísticos e culturais. O espaço abriga o recorte de memórias daqueles que ali estiveram sepultados e da comunidade a qual pertencem”, pontuou Paulo Sérgio.

Azambuja atualmente é uma parte de município catarinense, mas já foi sede de uma colônia nos séculos passados.A Colônia Azambuja foi fundada em 28 de abril de 1877 pelo agrimensor maranhense Joaquim Vieira Ferreira. Conforme o historiador explica, não é possível precisar a data em que o cemitério foi construído, mas existe a tendência de que o mesmo tenha sido criado logo nos primeiros anos de ocupação da área. “Consta que os primeiros sepultamentos não foram feitos neste campo santo, e sim em uma parte mais baixa e úmida, apontando a necessidade de levar o cemitério para uma área mais elevada”, falou o professor sobre a localização das ruínas.

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O projeto de restauração

Em 2023, a empresa Sapienza Arqueologia & Gestão do Patrimônio em parceria com a Fundação Educacional Barriga Verde (FEBAVE) de Orleans, foram designados para um projeto de estudo de restauração e definição de diretrizes técnicas para conservação do Cemitério da Imigração Italiana no bairro Azambuja, em Pedras Grandes.

Para os trabalhos, uma equipe multidisciplinar com profissionais de diversas áreas como arqueólogos, um historiador, museólogos, conservadores, arquitetas e um engenheiro civil. O estudo previu obras de edificação como calçadas, iluminação, drenagem e acesso ao cemitério. “O objetivo era mostrar o que tinha, onde estavam, as condições e apontar melhorias para o local, para poder receber os devidos restauros e conservação”, explicou o arqueólogo e um dos integrantes da equipe, Alexandro Demathé. Conforme o profissional, a restauração devida permite a presença de visitantes, desde familiares das pessoas que um dia estiveram sepultadas no cemitério, até pesquisadores que se interessem pela cultura e imigração italiana.

Demathé falou que o trabalho dos arqueólogos foi técnico e através das análises, foi possível identificar a tipologia e descrever todas as escritas das lápides. “Fizemos uma planta do local com topografia e um diagnóstico inicial da condição de cada elemento mortuário. Criamos elementos que possibilitaram a tomada de decisão da equipe de restauro e conservação”, disse o profissional. Vale destacar que o cemitério é um patrimônio tombado e necessitou de trabalhos técnicos e metodologias específicas para os estudos.

Durante a reportagem, foi possível notar que a mata estava alta e preponderante no local. A prefeitura informou que costumava efetuar serviços de roçagem e limpeza, mas após orientações inclusive descritas no projeto de restauração, as manutenções foram paradas para evitar qualquer tipo de dano aos túmulos. Para o projeto, a Prefeitura de Pedras Grandes desembolsou cerca de R$ 130 mil. Para a execução das obras, o prefeito Agnaldo Filippi calcula que aproximadamente mais R$ 300 mil deverão ser utilizados para realizar o restauro e acesso ao cemitério. O mandatário ainda crê que até 2026 a licitação estará pronta e os recursos alocados.

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Os três jovens citados no começo da matéria são Amanda Marcos, Anna Luiza e Matheus Machado, membros da equipe de reportagem que esteve presente no Cemitério da Imigração Italiana.

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Confira a reportagem em vídeo sobre o local abaixo:

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