Cultura
Show de Paul McCartney em Floripa prova por que ex-Beatle atravessa gerações
Mais de 30 mil pessoas estiveram na Ressacada para assistir um dos artistas mais influentes da música
Já havia passado mais de uma hora de show quando o telão do palco mostrou uma criança que, nos ombros do pai, olhava atentamente para Paul McCartney enquanto cantava. O pequeno deveria ter 10 ou 12 anos, no máximo, e era apenas uma das mais de 30 mil pessoas que lotaram o estádio da Ressacada neste sábado (19) para poder ver de perto o ex-Beatle – que provou porque segue atravessando gerações.
Na fila de entrada para o show, já era possível constatar o quão intergeracional Paul e os Beatles são. Havia crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, das mais diferentes idades, que aguardavam ansiosamente pela abertura dos portões e para o início da apresentação. Quando o músico subiu no palco, por volta das 21h30, ficou claro o porquê de toda essa expectativa.
E que sorte a minha. Pude ver, há não muitos metros de distância, a história da música e do Rock diante dos meus olhos. Um músico com mais de seis décadas de carreira que, no auge dos seus 82 anos, continua transparecendo toda a genialidade que construiu, a partir da década de 1960, ao lado de outros três garotos de Liverpool.
Em Florianópolis, Paul McCartney se mostrou perene. Conduziu um show de quase três horas de duração com apenas uma pequena pausa, que não durou mais do que três minutos. A idade do ex-Beatle não apagou nem uma linha da sua genialidade – pelo contrário, só a validou ainda mais.
Com uma setlist de 37 canções, Paul passeou pela história do Rock – a qual, obviamente, se confunde com a sua própria. Cantou músicas de sua carreira solo, do Wings (banda que compôs ao lado de sua esposa), do The Quarrymen (grupo que integrou ao lado de John Lennon antes dos Beatles) e do próprio Beatles. Fez com que um grande público não parasse de cantar um minuto sequer e não ficou restrito ao roteiro de sua apresentação.
Por diversas vezes, interagiu com aqueles que lotavam a Ressacada. Quando percebia que algum coro surgia do público, improvisava ritmo no piano ou no baixo para dar som ao que emanava do gramado e das arquibancadas. Além disso, arranhou um português de tempos em tempos, dizendo ‘e aí manezinhos’ e ‘dás um banho, Floripa’.
Paul homenageou George Harrison, ex-Beatle falecido em 2001, e o chamou de amigo ao cantar Something. Prestou homenagem também a John Lennon, chamando-o de irmão ao anunciar Here Today. Provou ser um romântico, ao dedicar My Valentine para sua esposa, Nancy Shevell, que também estava na Ressacada.
E para além de tudo isso, McCartney emocionou um público extremamente diverso. Vi pais e filhos extremamente animados, pulando juntos a cada música. Vi, também, muita gente chorando, entre homens e mulheres – sobretudo quando tocou Now And Then, canção perdida dos Beatles que só foi lançada no ano passado. Me emocionei quando Paul anunciou In Spite of All The Danger como a primeira música que ele gravou em estúdio, por perceber que aquele passado glorioso dos Beatles estava bem ali, materializado na minha frente.
Paul trocou o baixo pelo piano, o piano pelo violão e até mesmo o violão pelo ukulele durante o show. Cantou e tocou em pé, sentado e debruçado sobre o seu Yamaha e até mesmo em uma grande plataforma móvel que se ergueu durante Blackbird. Fez tudo isso para um público gigantesco que, certamente, nunca irá se esquecer do dia em que um ex-Beatle encanto o estado catarinense – com o mesmo carisma de quando ainda integrava uma das maiores e mais influentes bandas de todos os tempos.