O uso do cartão de crédito deixou de financiar bens de consumo e passou a sustentar a compra de itens básicos no Brasil de 2025. É o que mostram os dados mais recentes da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio), que apontam as famílias com renda de até cinco salários mínimos como as mais endividadas do país. A principal razão é o peso crescente dos juros do rotativo.
Segundo o pesquisador Flávio Ataliba, do FGV Ibre, mais de 90% das dívidas dessas famílias passam pelo cartão de crédito. Ele explica que a facilidade de uso, aliada à falta de educação financeira e às altas taxas de juros, transformou o cartão em um mecanismo de endividamento contínuo.
Como o cartão financia a sobrevivência
É cada vez mais comum que consumidores utilizem o cartão para despesas essenciais, como alimentação e higiene. O parcelamento dessas compras gera um acúmulo de parcelas que se sobrepõem mês a mês, o que leva muitos usuários a recorrer ao pagamento mínimo e, consequentemente, ao rotativo — que ultrapassa 400% ao ano.
Mesmo com leve queda registrada em novembro, o endividamento continua elevado. A CNC projeta que 2025 terminará com aumento de 2,4 pontos percentuais no número de famílias endividadas e 0,5 ponto percentual de crescimento na inadimplência, em comparação ao fim do ano anterior.
Desenrola trouxe alívio, mas não impediu nova pressão financeira
O programa Desenrola, que teve suas últimas rodadas entre 2023 e 2024, reduziu o peso imediato das dívidas. No entanto, os dados do Banco Central mostram que o efeito não se sustentou. O comprometimento da renda com dívidas atingiu 28,8% em outubro, maior nível da série histórica, enquanto 10,23% do orçamento mensal das famílias está sendo destinado apenas ao pagamento de juros.
A relação entre estoque de dívidas e renda acumulada em 12 meses também manteve trajetória ascendente, chegando a 49,8% em outubro. Para especialistas, sem uma política permanente de redução do endividamento, o ciclo tende a se repetir.
Quando um imprevisto vira inadimplência
A inadimplência cresce em parte porque os imprevistos chegam antes do salário. Perda de emprego, afastamentos médicos e acidentes reduzem ou interrompem a renda, fazendo com que o cartão seja a primeira solução emergencial. Com isso, 48,5% das famílias inadimplentes já acumulam atrasos superiores a 90 dias, e o tempo médio para regularização chega a 7,1 meses.
Esse cenário reforça a importância de mecanismos de proteção financeira, como o seguro prestamista, que quita parcelas de financiamentos em casos de desemprego ou incapacidade temporária. De acordo com a Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), esse tipo de seguro representa 49% dos prêmios de Seguro de Pessoas no país e 53% das indenizações pagas em setembro de 2025.
A presidente da Comissão de Risco da entidade, Ana Flávia Ribeiro, afirma que o seguro preserva o orçamento familiar e impede que emergências transformem dívidas administráveis em inadimplência. Entretanto, a adesão ainda é baixa entre famílias de menor renda, justamente as mais vulneráveis.
Mercado de seguros em expansão
O levantamento da Fenaprevi aponta crescimento no segmento de Seguro de Pessoas, o que sinaliza maior preocupação com proteção financeira. Em agosto de 2025, o setor registrou:
- R$ 6,8 bilhões em prêmios (alta de 10,4% ante agosto de 2024);
- R$ 51,3 bilhões acumulados no ano (alta de 8,1%);
- R$ 1,5 bilhão em sinistros pagos no mês (+0,03%);
- R$ 11,4 bilhões em indenizações no ano (alta de 6,6%).
Apesar da evolução, especialistas reforçam que a proteção ainda não acompanha o ritmo do endividamento das famílias, especialmente entre os grupos de menor renda.
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