Educação
Municipalização de escola fortalece a educação em Içara
Nova direção da escola Alaíde Tabalipa tenta lidar com a defasagem escolar
Os alunos da escola Alaíde Tabalipa, em Içara, sentem na pele as mudanças da administração da instituição. Antes negligenciado, o colégio foi municipalizado neste ano (2024) e a nova gestão mudou a relação dos estudantes com a aprendizagem. A principal consequência da irresponsabilidade da antiga gestão, apontada pelos atuais professores e os próprios alunos, é a defasagem escolar.
“Quando a gente chegou aqui, ficamos bem apavorados. Os alunos não tinham a regra de ficarem dentro das salas, eles saiam a qualquer momento sem autorização”, relata a atual diretora, Márcia Beatriz Fernandes Cruz. Ela revelou que além da falta de disciplina, vários alunos sequer eram alfabetizados quando ela assumiu o cargo.
O atraso na aprendizagem torna-se mais perceptível quando se observa o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). De acordo com os dados de 2023, o colégio possui o pior desempenho da rede estadual na Amrec (Associação dos Municípios da Região Carbonífera), tendo um Ideb de 4,7 em uma escala que vai até 10.
Para tentar mudar esse cenário, Márcia afirmou que a escola passou a aplicar aulas de reforço no contraturno para reforçar a aprendizagem dos estudantes.
A discente Ana Laura Santiago de Oliveira, que está no nono ano, disse que a mudança tornou o ensino mais firme. “Ficou mais fácil de compreender e estão nos preparando melhor para o ensino médio”, completou.
A ex-aluna Maria Vitória Ferreira Francisco, que estudou durante todo o fundamental no local e atua, hoje, como estagiária na escola, ressalta que os antigos professores não davam o devido suporte. Ela enfatiza: “os professores atuais tentam incentivar os alunos, eles buscam integrar o conhecimento teórico com prática e viagens [educacionais]”.
Fortalecimento da relação entre alunos e o ambiente escolar
A atualização do método de ensino e do plantel de professores também modificou a visão dos alunos para com a o colégio. A diretora revelou que muitos estudantes sofrem com a desestrutura familiar e veem a escola como um lugar de aceitação e suporte.
“Eles passaram a valorizar a escola, estão percebendo que a gente quer o bem deles”, contou a professora de língua portuguesa, Grasiela Cristianetti Vieira.
A docente ainda disse que os alunos não possuíam a rotina de ler, o que obstruía a organização das ideias no papel. “É uma dificuldade que a gente não quer que eles levem para a vida adulta”, acrescentou. Orgulhosa, ela afirmou que, em oito meses de trabalho, já consegue realizar leituras de até 30 minutos com os estudantes.
Além de estimular a leitura, a escola também desenvolveu o projeto Rádio ALT para fomentar a escrita e a oratória. Durante as aulas de português, os alunos desenvolvem roteiros contendo algumas informações como: o lanche oferecido pela merenda naquele dia, quem está de aniversário e qual a previsão do tempo.
No intervalo, os envolvidos no trabalho vão até a sala de informática para realizar o programa, que é ouvido por toda a instituição.
Nova estrutura e equipamentos para o auxílio da aprendizagem
A reestruturação do local é outro fator que tem potencializado a nova rotina dos estudantes. Além da sala de informática com mais de 20 computadores, a escola Alaíde Tabalipa também ganhou uma biblioteca com livros enviados pela prefeitura de Içara.
Nos novos espaços são promovidas algumas ações como as aulas de robótica, a Rádio ALT e os momentos de leitura livre. A instituição também oferece aulas de karatê, de educação financeira e possui uma banda, intitulada Fanfarra, com cerca de 38 vagas.
“Para mudar a realidade aqui, o ensino tem que ser integral. Os alunos têm que virem para cá e ficar o maior tempo na escola”, avaliou a diretora ao ressaltar a importância das atividades extras oferecidas aos estudantes.
Promessa antiga sem data de entrega
Márcia também se queixou da demora em finalizarem a construção do ginásio esportivo. Ela disse que a empresa simplesmente abandonou a obra e afirmou que a prefeita do município, Dalvania Cardoso, entrou em contato com o governador Jorginho Mello solicitando a conclusão.
“Os engenheiros já vieram aqui em agosto. O que ficou definido é que a obra será retomada até o fim do ano” revelou a diretora. Segundo ela, uma previsão de entrega não foi passada.
Trabalho continuo e resultado a longo prazo
As mudanças ocorridas até o momento já trouxeram consigo novas perspectivas para os alunos da instituição, mas o caminho para suprir a negligência de aprendizagem é extenso.
“Às vezes, a gente quer ‘andar’ mais com o conteúdo, mas não conseguimos. Precisamos reforçar a base para depois chegar no que eles deveriam estar aprendendo”, lamentou Grasiela ao admitir não poder sanar toda a defasagem dos alunos do nono ano.
“A expectativa é que os estudantes do sexto ano cheguem mais preparados para o nono, acredito que isso é possível, trabalhamos para isso”, finalizou a professora ao expressar otimismo com a evolução gradual dos discentes.