Um estudo técnico elaborado em 1978, pelo extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), é até hoje considerado o diagnóstico mais completo já produzido sobre cheias no Rio Tubarão.
O documento, que permaneceu abandonado por mais de quatro décadas, foi resgatado pelo engenheiro sanitarista André Labanowski, que coordenou projetos de barragens em Concórdia, e revela uma série de alertas estruturais que continuam atuais na bacia hidrográfica.
O estudo detalha, de forma minuciosa, a necessidade de três barragens, além da retificação do curso d’água e dragagem do rio. Devido ao elevado custo, até hoje o único projeto que saiu do papel foi o da dragagem e retificação, entregues pelo Governo Federal em 1982.
O que dizia o estudo de 1978
O material técnico do DNOS, com cerca de quatro metros de altura de documentos, traz um plano de prevenção dividido em quatro grandes eixos:
- Construção de três barragens de contenção para reduzir o pico de cheias e proteger a área urbana de Tubarão nos seguintes pontos:
• Pedras Grandes
• Acima de Armazém
• Braço do Norte
- Retificação e dragagem do Rio Tubarão até Laguna para recuperar a profundidade original do rio, além de ampliar a capacidade de escoamento.
Até hoje, o principal alerta apontando pelo engenheiro civil é a preocupação constante em períodos intensos de chuva e elevação do rio: a perda de vazão devido à presença de materiais no fundo do corpo hídrico que naturalmente aumentam risco de tragédia até maior que a de 1974, uma vez que a área urbana da cidade cresceu muito e diversas edificações encontram-se a poucos metros das margens.
O DNOS registrou, já nas décadas passadas, uma tendência preocupante:
• profundidade original: 6 metros;
• profundidade atual confirmada por Labanowski: cerca de 4 metros;
• capacidade de vazão original: 2.100 m³/s;
• vazão atual: 1.400 m³/s.
Os dados indicam que a capacidade de escoamento do rio está comprometida entre 30% e 40%. A conclusão do estudo aponta que o assoreamento progressivo aumenta significativamente o risco de desastres.
Décadas depois, Labanowski reafirmou, com base nos dados de 1978: “Com esta vazão, se ocorrer a mesma densidade de volume de água de 1974, os estragos serão muito superiores ao daquele ano”.
O custo previsto no estudo também impressiona. O DNOS apontava que o conjunto das três barragens custaria dez vezes mais que a retificação e a dragagem. Por esse motivo, a obra completa nunca foi executada, e o projeto ficou engavetado por 33 anos, até ser encontrado por Labanowski no antigo DEINFRA.
Na época, André defendia tanto a necessidade urgente de uma dragagem no rio Tubarão em decorrência do seu assoreamento, quanto à construção de três barragens em proporções menores do que as projetadas pelo DNOS.
Segundo ele, era necessário que se fizesse um novo projeto para saber da possibilidade de construção nos mesmos locais previstos pelo DNOS ou em outros pontos. “É preciso ter um diagnóstico atualizado e completo de tudo, com imagem de satélite e mapas para se elaborar o projeto. O que não pode é um projeto como este cair no esquecimento e ficar arquivado 33 anos sem possibilidade de retomada”, disse o especialista ao entregar a documentação à Associação Regional de Engenheiros e Arquitetos Vale do Rio Tubarão (AREA-TB), no ano de 2011.
Quem foi o engenheiro que resgatou o estudo?
A questão das barragens só voltou ao debate porque o engenheiro sanitarista André Labanowski, que na época era funcionário do DEINFRA encontrou todo o material abandonado e o recuperou por iniciativa própria. Ele reuniu e disponibilizou os documentos à AREA-TB após participar de uma mesa redonda durante o seminário de 37 anos da enchente de 1974, evento realizado em março de 2011.
Lagunense, Labanowski faleceu em 2025 aos 80 anos, deixando esposa e filhos. Foi funcionário aposentado da Casan, autor do projeto do emissário submarino do Mar Grosso (1986), presidente da seccional catarinense da Abes nos anos 1990 e secretário-adjunto de Planejamento de Laguna em 2017. Seu legado inclui a recuperação de um dos mais importantes documentos já produzido sobre o Rio Tubarão, um estudo que permanece atual e ajuda a explicar os riscos que a região enfrenta hoje.
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