Após ao menos três episódios considerados de risco em voos oficiais neste mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia a compra de um novo avião presidencial. A proposta, no entanto, enfrenta forte resistência interna devido ao alto custo da aeronave — estimado entre R$ 1,4 bilhão e R$ 2 bilhões — e ao potencial desgaste político em um ano eleitoral.
A cotação final deve ser apresentada ao presidente apenas no início de 2026. Atualmente, o processo está na fase final de levantamento de preços conduzido pelo Ministério da Defesa e pela Força Aérea Brasileira (FAB).
Por que Lula quer trocar o avião presidencial
A intenção de substituir o atual Airbus A319CJ, conhecido como Aerolula, decorre da insatisfação do presidente e da primeira-dama, Janja, com as limitações da aeronave. Lula defende um avião com maior autonomia para voos internacionais, espaço ampliado para reuniões, área vip e um quarto mais confortável, com cama.
Segundo relatos de bastidores, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, enfrenta dificuldades para encontrar, no mercado internacional, aeronaves que atendam às exigências do Palácio do Planalto.
Mercado restrito e fila internacional
A escassez de aeronaves desse porte é um dos principais entraves à compra. Aviões adaptados para chefes de Estado têm produção limitada e não acompanham a demanda global, o que pode estender o processo por até três anos.
A FAB acionou corretores especializados para prospectar modelos disponíveis em diferentes países. Após essa triagem técnica e financeira, as opções são submetidas à avaliação final do presidente. A compra, se avançar, deverá ocorrer por meio de licitação.
Em 2024, a Aeronáutica chegou a sondar aeronaves alemãs, incluindo uma utilizada pela ex-chanceler Angela Merkel, mas as negociações não prosperaram.
Incidentes recentes reacenderam o debate
A discussão ganhou força após uma sequência de ocorrências envolvendo aeronaves oficiais:
- Outubro de 2024 (México): o Aerolula sofreu falha em uma das turbinas e permaneceu quase cinco horas sobrevoando a Cidade do México para consumir combustível antes de pousar em segurança.
- Março de 2025 (Sorocaba): o avião presidencial precisou arremeter devido a ventos fortes no momento do pouso.
- Outubro de 2025 (Pará): uma falha no motor antes da decolagem obrigou Lula e a comitiva a trocar de aeronave por risco de incêndio.
O episódio no México foi considerado decisivo. Em reunião ministerial, Lula afirmou que, naquele momento, temeu pela própria vida.
Desde então, o Aerolula opera com uma turbina alugada. Dois novos motores devem chegar a Brasília em janeiro para a renovação do equipamento.
Um avião antigo e com autonomia limitada
Adquirido há cerca de 20 anos, durante o primeiro mandato de Lula, o Aerolula custou aproximadamente R$ 495 milhões em valores corrigidos. A aeronave possui três seções internas, mas apresenta limitações importantes de autonomia.
Em maio de 2023, por exemplo, Lula precisou fazer duas escalas — no México e no Alasca — para cumprir uma viagem oficial ao Japão, situação considerada inadequada para um chefe de Estado.
Custo político e eleitoral pesa na decisão
Aliados do presidente avaliam que a compra de um novo avião poderia gerar forte desgaste político em pleno ano eleitoral. O processo de aquisição e adaptação dificilmente seria concluído antes do segundo semestre, o que reforça a resistência dentro do próprio Palácio do Planalto e do PT.
Há também o argumento de que, durante a campanha, os custos das viagens eleitorais devem ser ressarcidos pelo partido. Uma aeronave mais moderna elevaria essas despesas, que precisam ser declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Uma ala defende que a compra seja descartada, enquanto outra sugere deixar o processo encaminhado para 2027.
Impasse orçamentário na Defesa
O debate também expõe tensões internas nas Forças Armadas. Para 2026, o orçamento do Ministério da Defesa será de R$ 141 bilhões, dos quais 76% serão destinados a despesas com pessoal. Apenas R$ 812 milhões estão reservados para manutenção e suprimento de material aeronáutico.
O ministro da Defesa, José Múcio, defende a criação de um piso de 2% do PIB para a área, argumentando que falta previsibilidade para investimentos estratégicos.
Nesse cenário, a eventual compra de um novo avião presidencial teria de disputar recursos com outras prioridades da Defesa Nacional.
Até o momento, Ministério da Defesa, Aeronáutica e Palácio do Planalto não se manifestaram oficialmente sobre o andamento do processo.
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