Saúde
Saúde em Tubarão: faltam médicos e sobra burocracia
Secretário aponta entraves legais e carência de profissionais como os principais desafios nos primeiros meses de gestão
Por
Redação

Tubarão intensifica esforços para melhorar atendimento na Atenção Básica, mas enfrenta desafios com escassez de médicos, falhas no fornecimento de medicamentos e entraves burocráticos. A afirmação é do secretário municipal de Saúde, Otávio Piva, que está à frente da pasta há cerca de seis meses. Em entrevista à Rádio Cidade (assista aqui) nesta quarta-feira (28), ele destacou medidas já implementadas e outras em fase final, como o uso da telemedicina e a extensão do horário de atendimento em unidades com alta demanda.
Entre as ações citadas, Piva destaca a contratação de um serviço de transporte por aplicativo exclusivo para pacientes em tratamento de hemodiálise. “É um transporte mais humanizado, individualizado, que já está em operação”, afirmou. Além disso, a secretaria está prestes a firmar contrato para oferta de consultas via telemedicina, que deve contribuir para reduzir filas nos postos de saúde.
Faltam médicos e medicamentos
O secretário reconhece a maior fragilidade da rede: a carência de médicos e outros profissionais nas unidades de saúde. A cidade tem dificuldades para preencher todas as vagas, especialmente após a saída de profissionais nos últimos anos. “Estamos chamando médicos, enfermeiros e dentistas para completar os quadros. O objetivo é garantir um atendimento digno nos postos”, diz.
Na área de medicamentos, Piva aponta a burocracia como o maior entrave. Ele cita como exemplo situações em que empresas fornecedoras não entregam os itens contratados, obrigando o município a seguir prazos legais para notificações e substituições. “Enquanto isso, o paciente fica sem o remédio, e a culpa recai sobre a gente”, lamenta. “Não é falta de dinheiro. É excesso de trâmites legais que atrasam a reposição”.
Dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-SC) indicam que a escassez de medicamentos na Atenção Básica não é exclusividade de Tubarão. Em 2024, mais de 40 municípios catarinenses reportaram dificuldades no abastecimento de itens essenciais, como antibióticos, anti-hipertensivos e insulina. O problema afeta especialmente as cidades de médio porte, que dependem de licitações complexas e, muitas vezes, enfrentam desistência de fornecedores.
Atendimento com demanda espontânea e horários estendidos
Outra medida prevista é a reorganização do fluxo nos postos de saúde, priorizando a demanda espontânea – quando o paciente procura atendimento sem agendamento prévio – especialmente no período da manhã. As consultas agendadas, por sua vez, devem se concentrar no período da tarde. A estratégia visa evitar longas filas de espera durante a madrugada, problema ainda presente em algumas unidades.
“Queremos garantir que quem tenha uma urgência seja atendido rapidamente, sem precisar madrugar na fila”, explicou o secretário. A mudança seguirá a recomendação do Ministério da Saúde e será aplicada gradualmente.
Além disso, a secretaria estuda ampliar o horário de funcionamento das unidades com maior procura. “Vamos estender o atendimento até as 22 horas em alguns postos, com reforço de médicos, técnicos e enfermeiros. Isso evita que o cidadão precise recorrer à Policlínica Central para casos que poderiam ser resolvidos no posto”, afirmou Piva. A contratação de profissionais do programa federal Mais Médicos também é articulada.
Cenário regional e estadual
Tubarão, com cerca de 110 mil habitantes, é referência em saúde para diversos municípios da região da Amurel. Segundo dados da SES-SC, a cidade registra uma das maiores demandas por consultas na Atenção Básica do Sul catarinense. O último levantamento do Ministério da Saúde aponta que 34% dos atendimentos nos postos de saúde do município são classificados como de urgência leve, ou seja, poderiam ser resolvidos com um sistema mais ágil e resolutivo.
A sobrecarga dos serviços municipais reflete um problema estrutural da saúde pública no estado. Embora Santa Catarina seja o estado com maior cobertura de Atenção Primária do país (89%, segundo o CNES), a distribuição de médicos ainda é desigual, especialmente fora dos grandes centros. A Federação Catarinense de Municípios (Fecam) alerta que, mesmo com programas como o Mais Médicos, ainda há vacância de cerca de 300 postos em SC.
Conclusão
A Secretaria de Saúde de Tubarão tem buscado respostas para questões estruturais como a falta de médicos, problemas com fornecedores e excesso de burocracia. Ao mesmo tempo, aposta em soluções tecnológicas, como a telemedicina, e mudanças no modelo de atendimento para garantir acesso mais ágil à população.
Se os projetos previstos forem executados com sucesso, a cidade poderá servir de exemplo de reorganização da Atenção Básica em Santa Catarina – mas o caminho ainda é repleto de obstáculos legais, operacionais e logísticos.