Saúde em Tubarão: faltam médicos e sobra burocracia

Secretário aponta entraves legais e carência de profissionais como os principais desafios nos primeiros meses de gestão

Redação

Publicado em: 28 de maio de 2025

7 min.
Saúde em Tubarão: faltam médicos e sobra burocracia

Tubarão intensifica esforços para melhorar atendimento na Atenção Básica, mas enfrenta desafios com escassez de médicos, falhas no fornecimento de medicamentos e entraves burocráticos. A afirmação é do secretário municipal de Saúde, Otávio Piva, que está à frente da pasta há cerca de seis meses. Em entrevista à Rádio Cidade (assista aqui) nesta quarta-feira (28), ele destacou medidas já implementadas e outras em fase final, como o uso da telemedicina e a extensão do horário de atendimento em unidades com alta demanda.

Entre as ações citadas, Piva destaca a contratação de um serviço de transporte por aplicativo exclusivo para pacientes em tratamento de hemodiálise. “É um transporte mais humanizado, individualizado, que já está em operação”, afirmou. Além disso, a secretaria está prestes a firmar contrato para oferta de consultas via telemedicina, que deve contribuir para reduzir filas nos postos de saúde.

Faltam médicos e medicamentos

O secretário reconhece a maior fragilidade da rede: a carência de médicos e outros profissionais nas unidades de saúde. A cidade tem dificuldades para preencher todas as vagas, especialmente após a saída de profissionais nos últimos anos. “Estamos chamando médicos, enfermeiros e dentistas para completar os quadros. O objetivo é garantir um atendimento digno nos postos”, diz.

Na área de medicamentos, Piva aponta a burocracia como o maior entrave. Ele cita como exemplo situações em que empresas fornecedoras não entregam os itens contratados, obrigando o município a seguir prazos legais para notificações e substituições. “Enquanto isso, o paciente fica sem o remédio, e a culpa recai sobre a gente”, lamenta. “Não é falta de dinheiro. É excesso de trâmites legais que atrasam a reposição”.

Dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-SC) indicam que a escassez de medicamentos na Atenção Básica não é exclusividade de Tubarão. Em 2024, mais de 40 municípios catarinenses reportaram dificuldades no abastecimento de itens essenciais, como antibióticos, anti-hipertensivos e insulina. O problema afeta especialmente as cidades de médio porte, que dependem de licitações complexas e, muitas vezes, enfrentam desistência de fornecedores.

Atendimento com demanda espontânea e horários estendidos

Outra medida prevista é a reorganização do fluxo nos postos de saúde, priorizando a demanda espontânea – quando o paciente procura atendimento sem agendamento prévio – especialmente no período da manhã. As consultas agendadas, por sua vez, devem se concentrar no período da tarde. A estratégia visa evitar longas filas de espera durante a madrugada, problema ainda presente em algumas unidades.

“Queremos garantir que quem tenha uma urgência seja atendido rapidamente, sem precisar madrugar na fila”, explicou o secretário. A mudança seguirá a recomendação do Ministério da Saúde e será aplicada gradualmente.

Além disso, a secretaria estuda ampliar o horário de funcionamento das unidades com maior procura. “Vamos estender o atendimento até as 22 horas em alguns postos, com reforço de médicos, técnicos e enfermeiros. Isso evita que o cidadão precise recorrer à Policlínica Central para casos que poderiam ser resolvidos no posto”, afirmou Piva. A contratação de profissionais do programa federal Mais Médicos também é articulada.

Cenário regional e estadual

Tubarão, com cerca de 110 mil habitantes, é referência em saúde para diversos municípios da região da Amurel. Segundo dados da SES-SC, a cidade registra uma das maiores demandas por consultas na Atenção Básica do Sul catarinense. O último levantamento do Ministério da Saúde aponta que 34% dos atendimentos nos postos de saúde do município são classificados como de urgência leve, ou seja, poderiam ser resolvidos com um sistema mais ágil e resolutivo.

A sobrecarga dos serviços municipais reflete um problema estrutural da saúde pública no estado. Embora Santa Catarina seja o estado com maior cobertura de Atenção Primária do país (89%, segundo o CNES), a distribuição de médicos ainda é desigual, especialmente fora dos grandes centros. A Federação Catarinense de Municípios (Fecam) alerta que, mesmo com programas como o Mais Médicos, ainda há vacância de cerca de 300 postos em SC.

Conclusão

A Secretaria de Saúde de Tubarão tem buscado respostas para questões estruturais como a falta de médicos, problemas com fornecedores e excesso de burocracia. Ao mesmo tempo, aposta em soluções tecnológicas, como a telemedicina, e mudanças no modelo de atendimento para garantir acesso mais ágil à população.

Se os projetos previstos forem executados com sucesso, a cidade poderá servir de exemplo de reorganização da Atenção Básica em Santa Catarina – mas o caminho ainda é repleto de obstáculos legais, operacionais e logísticos.



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