Pesquisa e prevenção mudam cenário do HIV em SC, mas alerta permanece

Dezembro é marcado no Brasil como o mês de conscientização sobre HIV e Aids, período dedicado a reforçar informações sobre prevenção, diagnóstico e qualidade de vida das pessoas que vivem com o vírus.

Eduardo Fogaça

Publicado em: 12 de dezembro de 2025

8 min.
Pesquisa e prevenção mudam cenário do HIV em SC, mas alerta permanece. Foto: Divulgação

Pesquisa e prevenção mudam cenário do HIV em SC, mas alerta permanece. Foto: Divulgação

A pesquisa científica, a ampliação da testagem e o acesso ao tratamento têm mudado o cenário do HIV em Santa Catarina, mas o cuidado ainda é indispensável. Dados recentes da Secretaria de Estado da Saúde mostram queda no número de novos casos e reforçam a importância do diagnóstico precoce, da prevenção e do enfrentamento ao estigma que ainda cerca a infecção.

Dezembro é marcado no Brasil como o mês de conscientização sobre HIV e Aids, período dedicado a reforçar informações sobre prevenção, diagnóstico e qualidade de vida das pessoas que vivem com o vírus. Em Santa Catarina, os números indicam avanços, mas também apontam desafios que exigem atenção contínua das autoridades de saúde e da sociedade.

Queda nos casos em Santa Catarina

Entre 2015 e 2024, Santa Catarina registrou 24.408 pessoas vivendo com HIV. A maior concentração está entre jovens de 20 a 29 anos, com predominância masculina. Em 2024, foram notificados 2.202 novos casos de HIV no estado, uma redução de 12,7% em relação a 2023, quando houve 2.522 registros.

Os diagnósticos de Aids também apresentaram queda. Em 2024, foram contabilizados 1.161 casos, contra 1.254 no ano anterior, uma redução de 7,4%. A diferença entre os dois termos é fundamental: viver com HIV não significa ter Aids. A Aids representa o estágio avançado da infecção, quando há maior comprometimento do sistema imunológico.

Testagem explica mudanças nos números

Segundo a professora do curso de Medicina da UniSul/Inspirali, Lettícia Rodrigues de Almeida Maurique, farmacêutica bioquímica, mestre e doutora em Ciências da Saúde, o aumento histórico das notificações de HIV está fortemente ligado à ampliação da testagem.

De acordo com a especialista, o crescimento da capacidade diagnóstica, a expansão da testagem em populações-chave e as campanhas de incentivo explicam boa parte do aumento dos registros ao longo dos anos. Ainda assim, ela ressalta que alguns grupos específicos podem apresentar mudanças reais nos padrões de transmissão, o que exige análises detalhadas por faixa etária, gênero e região.

Transmissão e formas de prevenção

A transmissão do HIV ocorre principalmente por meio de relações sexuais desprotegidas, transfusão de sangue contaminado, compartilhamento de instrumentos perfurocortantes sem esterilização e da mãe para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação.

A prevenção envolve o uso de preservativos, a testagem regular e estratégias como a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), disponível pelo Sistema Único de Saúde. Mais recentemente, opções como a PrEP injetável de longa duração, à base de cabotegravir, surgem como alternativa para pessoas que têm dificuldade com o uso diário de comprimidos.

Mortalidade em queda e avanços no tratamento

Enquanto os diagnósticos diminuem, a mortalidade por Aids também apresenta redução expressiva. Em Santa Catarina, a queda chega a 46,7% entre 2013 e 2023, segundo dados do Ministério da Saúde. Para Lettícia, esse avanço está diretamente relacionado ao acesso ampliado aos antirretrovirais, à adoção de tratamentos mais modernos e menos tóxicos e ao início imediato da terapia após o diagnóstico.

Ela destaca ainda a importância das redes de atenção estruturadas e do uso crescente da prevenção combinada, que ajudam a evitar casos avançados da doença e complicações associadas.

Estigma ainda é um obstáculo

Apesar dos avanços, os desafios permanecem. O estigma e a discriminação continuam sendo barreiras relevantes, capazes de afastar pessoas dos serviços de saúde. Também pesam as desigualdades regionais, a baixa testagem regular em alguns grupos, dificuldades de adesão ao tratamento e o conhecimento insuficiente sobre estratégias preventivas.

A educação sexual, segundo a especialista, ainda é frágil e não acompanha as necessidades atuais da população, o que compromete ações de prevenção mais efetivas.

HIV como condição crônica

Com os avanços científicos, o HIV passou a ser tratado como uma condição crônica manejável. Medicamentos mais eficientes, esquemas terapêuticos simplificados e o cuidado integral com a saúde, incluindo aspectos de saúde mental, permitem que pessoas vivendo com HIV tenham expectativa de vida próxima à da população em geral.

Outro ponto relevante é o conceito de U=U (Indetectável = Intransmissível). Pessoas em tratamento regular, com carga viral indetectável, não transmitem o vírus por via sexual, o que contribui para a redução do estigma e melhora a adesão ao tratamento.

Testar, tratar e informar

Para Lettícia, iniciar o tratamento logo após o diagnóstico faz diferença direta na redução da progressão da doença, das internações e da mortalidade, além de praticamente eliminar a transmissão sexual. O benefício, segundo ela, é individual e coletivo.

A especialista reforça que testar é fundamental, prevenir é possível e o tratamento salva vidas. Buscar informação segura e combater o estigma são passos indispensáveis para seguir avançando no enfrentamento ao HIV em Santa Catarina.


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