Esta é a terceira reportagem da série “Hospital Materno Infantil de Criciúma sob denúncia”, produzida pela Rádio Cidade em Dia. A série investiga relatos de falhas graves em atendimentos e denúncias de negligência médica na unidade hospitalar mantida pelo Estado em Criciúma.
Casos como o de Samuel Biff, bebê de dez meses que morreu em julho de 2023 após 58 dias internado, levantam novos questionamentos sobre a conduta da equipe médica e as condições de atendimento no Hospital Materno Infantil Santa Catarina. A mãe, Vanusa Biff, afirma que o filho morreu “de fome e sem respostas” depois de uma longa internação marcada por erros e descuido.
“Levei várias vezes e diziam que não era nada”
Segundo Vanusa, os primeiros sinais de que algo estava errado surgiram semanas antes da internação. O bebê apresentava febre constante e dificuldade para respirar, mas o atendimento não teria sido suficiente para identificar a gravidade do quadro.
“Levei ele várias vezes no hospital e sempre diziam que era só uma gripe. Só quando o pulmão já estava 50% comprometido é que resolveram internar”, contou.
Samuel foi diagnosticado com bronquiolite e pneumonia, e precisou ser intubado na UTI. Mesmo assim, a mãe relata que o atendimento foi falho e que o bebê ficou longos períodos sem acompanhamento médico durante a madrugada.
Falta de cuidados e sofrimento dentro da UTI
Durante a internação, Vanusa afirma que o filho passou fome e desenvolveu feridas graves.
“Ele ficou só no soro. Eu perguntava se aquele soro alimentava, porque ele estava definhando. Quando trocaram a fralda, vi que ele estava em carne viva, com assaduras muito grandes. Tive que pedir pomada, porque ninguém fazia nada”, relatou.
Ela também denuncia falhas nos procedimentos. Segundo a mãe, o filho foi desentubado acidentalmente durante o banho, e teria sofrido ferimentos no pescoço por causa de tentativas malsucedidas de acesso venoso.
“Colocaram o cateter no pescoço e, na hora do banho, puxaram o tubo. Fui até o Ministério Público pedir ajuda, porque vi que meu filho estava morrendo ali dentro”, disse.
Sinais de melhora e alta precoce
Após quase dois meses, Samuel começou a apresentar sinais de recuperação. Ele chegou a respirar sem ajuda de aparelhos e, segundo a mãe, estava ganhando peso. “O médico disse que ele estava bem e liberou para o quarto. Eu acreditei que meu filho ia sair dali com vida”, contou.
Mas, na pediatria, a rotina mudou. Vanusa relata que a alimentação do bebê foi reduzida, mesmo após autorização da fonoaudióloga. “Ele chorava de fome. Eu chamava médico, enfermeira, e ninguém vinha. Diziam que ele podia broncoaspirar, mas já estava liberado. Meu filho pedia comida e eu não podia dar”, afirmou.
A madrugada do desespero
Na madrugada de 2 de agosto, Samuel morreu nos braços do pai.
“Ele mamou, puxou a roupa do meu marido pedindo socorro, e ficou roxinho. Levaram ele para outra sala, mas lá não tinha equipamento nenhum, nem oxigênio. Tentaram reanimar, mas ele já estava sem vida”, relatou Vanusa, emocionada.
O prontuário médico, segundo a mãe, mostra que o bebê teria broncoaspirado — engasgado com o leite —, mas ela questiona a falta de estrutura e o tempo de resposta da equipe. “Se tivessem o equipamento certo no quarto, talvez ele estivesse vivo”, lamentou.
Outras famílias denunciam falhas semelhantes
A morte de Samuel se soma a outras histórias já reveladas pela série da Rádio Cidade em Dia, que expôs as falhas nos casos de Jordana e Dominic, também atendidas no Hospital Materno Infantil Santa Catarina.
Os relatos indicam um padrão de negligência, demora no atendimento e descuido com pacientes vulneráveis. A equipe de reportagem procurou a direção do hospital e a Secretaria de Estado da Saúde para se manifestarem sobre as denúncias, mas até o momento da publicação não houve retorno.
No próximo episódio
A próxima reportagem da série trará a voz da advogada Milene Lacerda, representante das famílias, que detalha como os casos chegaram ao Ministério Público e quais medidas legais estão sendo tomadas para responsabilizar o hospital.
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