Segurança
Ressocialização: mais da metade dos presos da Penitenciária Sul estão trabalhando
Oportunidades contribuem na remição de pena preparam internos para retorno à sociedade
Para além da ideia de punição, entende-se que uma das principais funções de uma unidade prisional é atuar na ressocialização dos detentos. Afinal de contas, o indivíduo que é preso, em algum momento, irá retornar para a sociedade. Mas o que pode ser feito por ele, lá dentro, para que esse retorno ocorra em condições melhores? No caso da Penitenciária Sul, de Criciúma, o trabalho e o estudo são alternativas com grande adesão.
Atualmente, mais da metade dos presos da Penitenciária Sul estão trabalhando. Dos 873 internos, 430 trabalham. São três empresas instaladas e uma quarta prestes a se instalar dentro da unidade prisional, que conta também com serviços internos e externos realizados pelos detentos, os quais recebem salário para isso.
“Aqui temos algumas empresas, como Resicolor [empresa de tintas], ESAF [empresa de esquadrias de alumínios] e Top Têxtil [empresa de confecção de big bags]. O detento começa a trabalhar e recebe um salário mínimo [R$ 1.509], sendo que 25% desse valor retorna para a conta da unidade, para utilizar em construção, compra de materiais e pagamento do salário dos presos que trabalham para a gente”, declarou Johnny Cascaes, diretor da Penitenciária Sul.
Apesar da porcentagem ser considerável, não são todos os detentos que trabalham. Johnny explica que, quando um preso chega na Penitenciária, ele fica cerca de 90 dias no bloco D – que não dispõe da possibilidade de trabalho ou estudo. Na medida em que o interno apresenta bom comportamento, vai subindo de galeria e ganhando oportunidades para trabalhar. Caso cometa alguma infração, retorna para o bloco inicial e precisará enfrentar todo um processo novamente para garantir alternativas de remição de pena.
“Somos uma unidade considerada de ‘segurança alta’, então não temos como colocar todos para trabalhar. Alguns não querem, como os que se denominam líderes de facção, e não tem interesse. O cara que comete uma falta, como arranjar uma briga ou algo do tipo, não conseguimos colocar para trabalhar. Ele vai ser retirado e ficar um tempo na galeria até progredir para um bom comportamento. Temos esse controle de massa, com uma quantidade que trabalha e outra que não. Os que estão trabalhando não querem sair, e quem está fora quer entrar. É preciso manter o comportamento dos dois lados”, disse.
Trabalhos que possam o ajudar os detentos fora da Penitenciária
Os trabalhos disponíveis para os detentos da Penitenciária Sul são considerados úteis para fora da unidade prisional. Tratam-se de funções e atividades que possam lhe garantir um emprego assim que eles retornam à sociedade. Uma oportunidade para que, para além dos muros, eles possam se manter “na linha”.
“Os nossos trabalhos, no geral, não são à toa. Antigamente se tinha nas prisões trabalhos como costurar bola ou montar grampo, um tipo de trabalho que o detento não vai encontrar depois de solto. Aqui temos uma fábrica de janelas, de tinta. Às vezes a própria empresa contra o interno na hora que ele sai. Se for muito bom, ele sai com uma boa oportunidade”, explicou o diretor.
O relato de um detento
Uma das figuras mais conhecidas da Penitenciária Sul, ao menos internamente, é responsável por fazer o serviço de chapeação da unidade prisional. Preso há cinco anos, ele está desde 2021 trabalhando na reforma de viaturas das polícias de Santa Catarina e atuando em outras reformas que exigem funilaria.
Ele afirma que não é todo mundo que quer trabalhar, mas que o serviço é bom e pode ser uma oportunidade para “melhorar” dentro da prisão. “Depende do preso [querer ou não trabalhar na Penitenciária]. Muitos já não tinham emprego e viviam no mundo do crime, então é a hora de se endireitar aqui dentro, porque aqui tem opção de trabalho”, disse. “É bom, tem remição e tu já é visto de outra forma pelo trabalho. Ocupa a cabeça, sai da cela”, completou.
Presos prestam serviço para outras autoridades
Além das três empresas, a Penitenciária Sul também conta com pequenas fábricas para trabalhos internos e externos realizados pelos detentos. Chapeação e marcenaria são alguns dos serviços prestados pelos presos, que atendem inclusive demandas de outras autoridades – como Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar Rodoviária.
“Temos um interno que presta serviço de funilaria. Ele já tinha empresa na área fora e quando chegou aqui aproveitamos sua mão de obra pagando um salário, Reformamos viaturas para a PM de graça, recebendo apenas o material. Recentemente reformamos três caminhões do Corpo de Bombeiros, algo que custaria R$ 300 mil cada. Os postos de salva-vida containers que são colocados na nossa região são todos feitos na nossa Penitenciária”, comentou.
A reforma do posto da PMRv de Cocal do Sul, que recebeu não apenas pintura como também garagem, foi feita pelos internos da Penitenciária Sul. O canil de um posto da Polícia Militar também está sendo inteiramente construído pelos detentos – que também realizam serviços de jardinagem e manutenção da estrutura da unidade prisional. Segundo Johnny, tais atividades acabam se transformando em motivo de orgulho para os detentos.
“O legal é que o preso, depois que ele sai, vai passear com o filho ou parente e dizer: ‘foi em quem pintou aquilo, ou fez aquilo’. Eles têm orgulho do trabalho que fazem, tanto que vêm mostrar para gente que nem criança quando faz desenho e quer mostrar para o pai. Ficam animados com esse tipo de serviço”, pontuou.
A possibilidade de educação
Para além das alternativas de trabalho, também existe, na Penitenciária Sul, a possibilidade de educação. No fim do mês de outubro, 763 internos realizaram a prova do Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos).
“O interno tem aqui o Ensino Fundamental, Médio e Faculdade. Além disso, também tem a remição por leitura. Ele lê um livro por um período x de tempo e depois faz uma redação, que será avaliada por uma professora. Esporadicamente também tem curso em parceria com IFSC, Senai e outras entidades. Temos presos que trabalham um período, estudam em outro e de noite fazem a leitura, para ganhar remição”, afirmou Johnny.