Criciúma
Criciúma receberá exposição de xilogravuras
Exposição “De Bará à Oxalá” retrata orixás do Batuque em xilogravuras na Praça Nereu Ramos, Criciúma, unindo arte, ancestralidade e inclusão
Neste sábado (14), a Praça Nereu Ramos será espaço para o encontro entre arte, ancestralidade e espiritualidade afro-brasileira em Criciúma. No local, será realizada uma exposição que retrata os orixás, divindades das religiões de matriz africana.
A ação faz parte do projeto “De Bará à Oxalá: Xilogravando os Orixás do Batuque”, por meio do qual a artista visual Viviane Rocha produziu 12 xilogravuras retratando as divindades cultuadas no Batuque, tradição religiosa afro-brasileira do Rio Grande do Sul.
O Batuque
Semelhante ao Candomblé, Xangô de Pernambuco e outras tradições de culto a orixá, os negros trazidos ao Sul do Brasil também mantiveram devoção a essas divindades. Mesmo de nações diferentes, ritos foram adaptados e perduram até hoje como uma das mais influentes tradições de cultura negra do Sul.
De acordo com a produtora cultural do projeto, Gisleine Maximo Mendonça, que é filha de Xangô pela Nação Cabinda (uma das vertentes do Batuque), o projeto nasceu com o intuito de destacar a presença desse tipo de tradição religiosa aqui na região. “Sempre existiram várias tradições religiosas em Santa Catarina, mas muitas não são vistas da forma como deveriam ou recebem o espaço que precisam. A ideia é mostrar que a gente está presente aqui sim, que existe o culto ao orixá em Santa Catarina”, ressalta a produtora.
Ainda, conforme ela, a ideia é também levar o sentimento de pertencimento à população que tem a matriz africana como base religiosa. “No Batuque, os orixás são mais do que divindades, são também representações dos ancestrais, da cultura e dos ensinamentos dos nossos antepassados. O público vai ter a oportunidade de conhecer mais dessa tradição e a comunidade de Axé da região vai se ver representada nesse espaço, no centro da cidade”, destaca Gisleine.
A técnica
A xilogravura é uma técnica artística que consiste em um entalhe em madeira para a produção de uma matriz. Essa peça, então, recebe tinta e é utilizada para impressão em papel ou outro material, formando assim uma obra única. Muito utilizada no cordel, a xilogravura permite a criação de peças variadas em cada impressão, dependendo dos materiais utilizados, o entalhe e a tinta escolhida. “Dependendo da forma que você entinta a matriz, da tinta em si, das ranhuras da madeira, da forma utilizada para a impressão, a arte pode sair totalmente diferente. O interessante da ‘xilo’ é isso, cada obra é única” destaca a artista visual Viviane Rocha, que utiliza a técnica para produção artística desde 2019.
Exibição inclusiva
Entre sexta-feira (13) e domingo (15), as obras serão exibidas em um telão na Rua Hercílio Luz, na região central de Criciúma. Segundo dados da Diretoria de Trânsito e Transporte de Criciúma (DTT) de 2023, aproximadamente 15 mil carros passam pela via por dia, levando as peças artísticas a mais pessoas.
No sábado (14), das 10h às 14h, a exposição levará as obras até a Praça Nereu Ramos, como forma de democratizar o acesso ao público. “Ali vamos ter um banner explicando o que é o projeto e também estarão dispostas as xilogravuras e as matrizes”, conta a produtora do projeto.
A própria matriz da peça já atua de forma inclusiva para pessoas com algum tipo de deficiência visual. Por meio do toque, podem ser sentidas as ranhuras da madeira e a forma como é feita a arte, antes da impressão. “E para o público em geral, que não conhece a xilogravura, também é uma oportunidade de conhecer”, ressalta a artista Viviane Rocha.
Todas as obras também serão acompanhadas de uma descrição textual e terão à disposição um QR Code para acessar uma gravação descritiva em áudio.
O projeto
Entre as ações realizadas ao longo do ano, também foram ministradas oficinas artísticas para pessoas em situação de vulnerabilidade. Na Casa da Infância, em abril, foram realizadas quatro oficinas. Algumas peças criadas pelas crianças da instituição também serão exibidas no sábado.
As primeiras peças da temática central da exibição começaram a ser produzidas em janeiro deste ano. Ao todo, estão representados, em tamanho A3 (29,7 x 42 cm), os 12 orixás do Batuque: Bará, Ogum, Oyá, Xangô, Obá, Odé, Otim, Ossain, Xapanã, Oxum, Iemanjá e Oxalá. “Nas obras, não estão representados apenas os orixás, mas também elementos que fazem parte do culto. As cores têm ligação com cada um, a forma como são representados, o ambiente em que estão colocados, tudo isso tem uma significado específico relacionado à tradição do Batuque da Nação Cabinda”, explica Viviane.
O projeto “De Bará à Oxalá: Xilogravando os Orixás do Batuque” foi selecionado por meio do Edital Cultura Criciúma N° 001/2023 – Lei Completamente Nº 195/2022 (Lei Paulo Gustavo), através do município de Criciúma.
Sobre a artista
Viviane Rocha nasceu em Mato Grosso e vive em Santa Catarina desde 2016. Iniciou a vida artística na fotografia e atuou na ONG Instituto Usina, em Cuiabá, realizando exposições e projetos de atuação regional. Em Santa Catarina, atuou no Portal Catarinas e no projeto “Artes de pesca: saberes e fazeres dos pescadores tradicionais da Costeira do Pirajubaé”, da Fundação Catarinense de Cultura. Atua como professora de Literatura e Língua Portuguesa e produz xilogravuras para expressão própria. É filha de Ogum pela Nação Cabinda, uma das vertentes do Batuque do Rio Grande do Sul.