Uva passa no arroz: por que esse ingrediente divide o Natal brasileiro

O que muita gente não imagina é que essa combinação, hoje tão controversa, carrega mais de quatro mil anos de história e atravessou impérios, religiões e continentes até chegar às mesas do Brasil.

Eduardo Fogaça

Publicado em: 24 de dezembro de 2025

7 min.
Uva passa no arroz: por que esse ingrediente divide o Natal brasileiro. Foto: Divulgação

Uva passa no arroz: por que esse ingrediente divide o Natal brasileiro. Foto: Divulgação

Amada por uns, rejeitada por outros e protagonista de memes que se repetem a cada fim de ano, a uva passa no arroz se tornou quase um plebiscito informal na ceia de Natal brasileira. O que muita gente não imagina é que essa combinação, hoje tão controversa, carrega mais de quatro mil anos de história e atravessou impérios, religiões e continentes até chegar às mesas do Brasil.

A uva passa nada mais é do que a uva in natura desidratada. Com a perda de grande parte da água, seus nutrientes ficam mais concentrados e a densidade energética aumenta. Por isso, especialistas alertam para o consumo moderado, embora reconheçam seus benefícios nutricionais.

Uma tradição que começou no Oriente Médio

O consumo de uvas passas e de outras frutas secas, como tâmaras, figos e damascos, teve início no Oriente Médio há cerca de 4 mil anos. Naquele período, elas eram utilizadas como adoçantes naturais, já que o açúcar era caro e raro.

Foi também nessa região que as frutas secas passaram a ser incorporadas a pratos quentes, como o arroz. Segundo a professora do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Izabela Montezano, essa prática tinha tanto valor nutricional quanto simbólico.

Da Roma Antiga às festas religiosas

O hábito atravessou séculos e chegou à Roma Antiga. Em áreas de grande produção de uvas, especialmente no Mediterrâneo, frutos que caíam das parreiras e secavam naturalmente ao sol eram reaproveitados para evitar desperdícios.

Com o tempo, as frutas secas ganharam um significado especial. Elas passaram a simbolizar fartura e fertilidade e se tornaram presença comum nas celebrações do Dies Solis Invicti Natalis, festa romana realizada em 25 de dezembro em homenagem ao deus Mitra e ao solstício de inverno.

Mais tarde, a data foi ressignificada pela Igreja Católica como o Natal cristão, já que não há consenso histórico sobre o dia exato do nascimento de Jesus.

Influência árabe, Portugal e a chegada ao Brasil

Entre os séculos VIII e XV, a forte presença árabe no Mediterrâneo contribuiu para a disseminação do arroz na região, reforçando a associação do grão com frutas secas em pratos festivos.

Portugal incorporou esses costumes à sua culinária, especialmente em celebrações religiosas. Com a colonização portuguesa, a tradição chegou ao Brasil, onde o arroz, já integrado ao cotidiano alimentar, passou a receber ingredientes associados à nobreza, como a uva passa, em ocasiões especiais, principalmente no Natal.

Por que tanta rejeição?

Para Izabela Montezano, a resistência ao arroz com passas está ligada à expectativa sensorial do paladar brasileiro. “A rejeição pode estar associada à ideia de separação entre sabores doces e salgados, tradicionalmente destinados a pratos diferentes, como o principal e a sobremesa”, explica.

Ainda assim, a professora ressalta que a combinação carrega um forte simbolismo histórico e cultural, que vai muito além da simples preferência pessoal.

Em quais pratos a uva passa combina?

A doutora em Ciências dos Alimentos Luciana Bittencourt destaca a versatilidade do ingrediente. Segundo ela, a uva passa vai bem tanto em receitas doces quanto salgadas.

Nos pratos salgados, aparece com frequência em saladas frias, farofas, aves assadas e molhos agridoces. Já nas versões doces, é comum em bolos, pães, biscoitos, iogurtes e sobremesas tradicionais.

Benefícios nutricionais e consumo ideal

Do ponto de vista nutricional, a uva passa é rica em carboidratos naturais, como frutose e glicose, sendo uma boa fonte de energia rápida. Também contém fibras, que auxiliam o funcionamento do intestino e aumentam a sensação de saciedade.

Outro destaque são os compostos bioativos, como polifenóis e flavonoides, associados à ação antioxidante, à proteção cardiovascular e à redução do estresse oxidativo.

Quanto à quantidade, especialistas indicam moderação. A porção recomendada é de cerca de 30 gramas por dia, o equivalente a duas colheres de sopa cheias. Em pratos principais, de 10 a 20 gramas por porção já são suficientes para dar sabor e agregar valor nutricional, sem tornar a refeição excessivamente calórica.


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