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‘Ainda Estou Aqui’ é lembrete de onde já estivemos, para que jamais possamos nos permitir voltar

Cultura
‘Ainda Estou Aqui’ é lembrete de onde já estivemos, para que jamais possamos nos permitir voltar 1
Foto: Divulgação / Sony

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‘Ainda Estou Aqui’ é lembrete de onde já estivemos, para que jamais possamos nos permitir voltar

Filme dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres chegou nesta quinta-feira (07) aos cinemas

Há pouco mais de um mês, tive a oportunidade de entrevistar a ex-deputada estadual catarinense Ada de Lucca. Criciumense, de família rica e tradicional, ela me contou sobre o dia em que seu pai, o ex-deputado Addo Faraco, foi preso pela ditadura militar. Ele estava em sua residência, um casarão localizado em frente à Praça do Congresso, um dos pontos mais nobres da cidade, quando militares bateram à porta e apresentaram um mandado de prisão sem fundamento. Addo disse aos seus filhos que “ia ali e já voltava”, mas ficou detido por oito meses, sendo quatro destes incomunicáveis. O político de Criciúma retornou, diferentemente de muitos outros perseguidos pelo regime – como Rubens Paiva, seu correligionário de PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e ex-deputado federal, cuja história é o mote de Ainda Estou Aqui, filme que estreou nesta quinta-feira (07) nos cinemas brasileiros.

Faço toda essa introdução, antes de entrar no mérito do filme, para exemplificar o quão próximas de nós estão as histórias de famílias que foram impactadas pela ditadura no Brasil. O que aconteceu com Rubens nos anos 70 no Rio de Janeiro ocorreu, também, com outras centenas de pessoas que estavam ou não envolvidas com movimentos progressistas contrários ao regime. A história da família Paiva é, ainda que em outro grau pelo seu desfecho, a dos Faraco De Lucca, Mello, Soccas e tantos outros de Santa Catarina.

Baseado no livro homônimo escrito por Marcelo Rubens Paiva, Ainda Estou Aqui conta a história real da família Paiva, cujo patriarca foi preso e morto pela ditadura. O longa, escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de 2025 e premiado no Festival de Veneza deste ano na categoria de Melhor Roteiro, acompanha Maria Eunice (Fernanda Torres) na dura trajetória de tentar ocupar o vazio deixado por seu esposo e, sobretudo, encontrar respostas sobre o que lhe aconteceu.

Dirigido por Walter Salles (Central do Brasil), o filme retrata os horrores da ditadura militar brasileira pela perspectiva daqueles que ficaram. Sem Rubens (Selton Mello), Maria Eunice e seus filhos se veem em uma situação onde precisam seguir adiante mesmo sem um único atestado ou porquê. Como prosseguir quando alguém que você ama é retirado, sem mais nem menos, do seu lado? Ou, ainda, como lidar com a esperança do retorno sem que ela seja consumida pelo sentimento imediato do luto?

Ainda Estou Aqui é um lembrete de onde já estivemos, para que jamais possamos nos permitir voltar. Uma história que, mesmo que contada de maneira extremamente particular, se mostra universal ao dialogar com relatos que reverberam em todos os cantos do Brasil, de um dos períodos mais horríveis da história do nosso país. Um filme que, ao mesmo tempo que preserva a memória da nação, reforça a força e coragem de uma figura que foi símbolo da luta para reconhecimento das vítimas do regime.

O filme marca a volta de Walter Salles ao cinema nacional. O cineasta, que por muito tempo se aventurou no mercado norte e latino-americano, tem em Ainda Estou Aqui uma de suas obras mais maduras. Ciente do peso que existe por si só na história que está sendo contada, ele escolhe não apostar em armadilhas sentimentais. Isso, no entanto, não impede que o longa seja extremamente emocionante – já que, de fato, é. E a emoção está, e muito, condicionada a um nome: Fernanda Torres.

‘Ainda Estou Aqui’ é lembrete de onde já estivemos, para que jamais possamos nos permitir voltar

Em uma obra marcada por tantas forças, incluindo a doce atuação de Selton Mello, é Fernanda Torres quem ascende. Faz isso, sem se exceder por um minuto sequer. A atriz é a representação da força que a família Paiva precisou ter na dolorosa e duradoura ausência de Rubens. Carrega o drama retratado na voz, suave até mesmo nos momentos de conflito maior, e no olhar que transparece a dor familiar, mas que quase nunca se permite verter lágrimas.

Salles, Torres, Mello e todo o elenco fazem de Ainda Estou Aqui uma das obras mais emocionantes sobre um dos momentos mais difíceis da história do Brasil. Um filme que começa iluminado pela dinâmica da família Paiva, mas que de repente se vê na escuridão pela condição na qual ela se torna vítima. Uma mensagem dura sobre o local onde um dia já estivemos, mas necessária para que, independentemente dos ocasionais flertes, nunca mais retornemos.

Nota: 5 /5

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Ainda Estou Aquiestá disponível nos cinemas brasileiros. Confira o trailer:

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