Denis Luciano
Bolsonaro em Criciúma: muito nacional, nem tanto local
Evento foi grande, reuniu milhares no AM Master Hall, mas esperava-se um conteúdo mais local pensando na candidatura Guidi. Animou a militância
Não é um número oficial nem dos organizadores, mas fruto de observação pessoal. Em torno de 4 mil pessoas prestigiaram o ato do PL na noite desta sexta-feira (20) no AM Master Hall.
Eram 19h30 quando o ex-presidente Jair Bolsonaro subiu ao palco acompanhado de Ricardo Guidi, Acélio Casagrande e outros. Um êxtase na plateia que, extremamente animada, fez uma recepção ruidosa.
O evento em si foi bem organizado. Colorido, animado, certamente cumpriu seu papel de mobilizar a militância. Mas, no ápice da festa, faltou um elemento importante para uma eleição municipal: a química local.
Senão vejamos. Bolsonaro discursou por quase 10 minutos. Foi o último a falar e, obviamente, quem mais falou. Fez duas breves menções ao candidato do PL em Criciúma, no início e no fim da fala. Se esperava que ele citasse mais Ricardo Guidi? Provavelmente sim, mas claro que as lideranças do partido não admitirão isso.
Mas Bolsonaro não deixou de inflar a plateia. Pelo contrário. Bem ao seu estilo, tratou de pautas nacionais. Bateu no ministro Alexandre de Moraes sem citá-lo. “Passei a ser o ex mais amado do Brasil”, disse, sob fortes aplausos, ao lembrar a eleição de 2022. “Mas esse divórcio não foi o povo quem fez, foi uma pessoa abusando da sua autoridade, e essa verdade está chegando nos quatro cantos do Brasil”.
Em dois momentos, fez menções ao presidente Lula. Na primeira, tratando sobre ideologia de gênero, pauta comportamental da sua preferência. Em outro momento, logo após citar o “divórcio” de 2022. Em ambas, o público explodiu em vaias ao atual presidente com o coro “Lula, ladrão, teu lugar é na prisão”.
Bolsonaro lamentou a retirada do ar do X (o antigo Twitter), usou uma deixa do senador Jorge Seif para dizer que “pode tomar cervejinha, mas sem roubar celular” e fez contraponto aos que afirmam que “a internet deu voz a idiotas”. “Na verdade, a internet é que fez descobrir os idiotas que tem em Brasília”.
No fim das contas, o evento empolgou militantes em torno do PL, mas faltou a liga, a química entre Bolsonaro e a candidatura Ricardo Guidi. O candidato bem que tentou no seu discurso, citou o ex-presidente o quanto pode, acarinhou os demais líderes no palanque, mas ficou no ar o sentimento de “faltou algo”. Seria uma fala mais cativante, mais intensa de Bolsonaro sobre a candidatura do PL em Criciúma. Faltou o localismo.
Em termos de relevância regional, o evento cumpriu seu papel. Estavam no palanque todos os candidatos do PL às prefeituras da Amrec (Içara, Forquilhinha, Balneário Rincão, Morro da Fumaça, Orleans) e Amesc (Araranguá, Balneário Arroio do Silva, Meleiro, Morro Grande, Ermo, Turvo, Timbé do Sul e São João do Sul), além dos candidatos do PL de Tubarão e Braço do Norte, da Amurel.
Falaram também o presidente estadual do PL, Jorginho Mello (anunciado como o melhor governador do Brasil), mais os senadores Beto Martins e Jorge Seif e os deputados Jessé Lopes, Daniel Freitas e Júlia Zanatta. Deles, Jessé foi quem fez uma menção indireta ao prefeito Clésio Salvaro. “Nunca foi tão fácil escolher o prefeito de Criciúma. De um lado, o candidato do prefeito preso. De outro, o candidato do presidente Bolsonaro”.
O ex-presidente continua em Criciúma. Janta em um restaurante local com convidados, dorme em um hotel da cidade e neste sábado participará de uma caminhada pela manhã no Centro da cidade.
A princípio, a presença de Bolsonaro em Criciúma, da forma como foi no evento, sem dúvida sedimenta uma base, consolida uma marca com apoiadores que já são do PL. Se resultará nos novos votos tão necessários em uma acirrada disputa, os próximos dias dirão. A princípio, não parece ser o caso.