Economia
Concessão à iniciativa privada é apontada como solução para a cadeia logística brasileira
Os painéis do segundo dia da logística também apresentaram um panorama abrangente dos principais desafios e oportunidades que o setor enfrenta
A concessão para a iniciativa privada foi apresentada como uma das soluções para os gargalos logísticos que impactam o agronegócio brasileiro durante o painel ” O Impacto do Agronegócio Brasileiro na Geopolítica e Logística Mundial”, realizado no segundo dia da Logistique 2024. O evento, em Balneário Camboriú (SC), reúne especialistas de diferentes áreas para discutir o futuro do setor e os desafios que precisam ser superados para que ele alcance seu pleno potencial.
Os painéis do segundo dia da logística também apresentaram um panorama abrangente dos principais desafios e oportunidades que o setor enfrenta. A busca por soluções sustentáveis, a adoção de práticas maduras e a utilização estratégica da transformação digital são elementos chave para o sucesso das empresas e o desenvolvimento sustentável da economia.
A Logistique 2024 deixou claro que a infraestrutura é fundamental para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro e para sua consolidação como um dos principais fornecedores de alimentos do mundo. Segundo os especialistas, é necessário um esforço conjunto do governo, da iniciativa privada e do setor agropecuário para superar os desafios logísticos e garantir um futuro promissor para o agronegócio brasileiro.
Francisco Turra, ex-ministro da Agricultura, chamou a atenção para o enorme potencial do agronegócio brasileiro, ainda “adormecido” em comparação com sua capacidade. Ele citou a frase dita por representantes de uma missão japonesa ao Brasil no início dos anos 2000: “Só tem medo de fome no mundo quem não conhece o Brasil”. Turra ressaltou a importância do clima temperado dos três estados do Sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – para o sucesso da agricultura brasileira.
O agronegócio brasileiro vivenciou um crescimento impressionante nos últimos 25 anos. A safra de grãos saltou de 78 milhões para 310 milhões de toneladas, e as exportações totais do país dispararam de 30 milhões para 300 milhões de toneladas. Apesar desse crescimento, a logística precária se configura como um gargalo que impede o setor de alcançar seu potencial máximo. O Brasil ocupa atualmente a 51ª posição no ranking mundial de desempenho logístico entre os grandes países.
Turra lembrou também que as exportações brasileiras de grãos no período cresceram 814% em 25 anos, enquanto a exportação de suínos cresceu mais de 400% no mesmo período. Ao mesmo tempo, a infraestrutura logística teve poucas alterações. “Apesar do crescimento exponencial do agronegócio brasileiro, a logística ainda é um gargalo que impede o setor de alcançar seu pleno potencial”, acrescentou.
Comparação com outros países
Neivor Canton, presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos, alerta para a infraestrutura logística inferior do Brasil em relação aos Estados Unidos e outros países do BRICS. Ele cita a proporção de quilômetros de rodovias pavimentadas (20:1 para os EUA e 7:1 para a Índia) e a malha ferroviária (1 km para cada 10 km dos EUA).
Airton Galinari, presidente-executivo da Coamo, por sua vez, ressaltou a importância da produção de grãos para o desenvolvimento da economia brasileira. Ele destaca que essa produção funciona como uma “moeda de troca” para o país, gerando divisas através da exportação e impulsionando diversos setores.
O painel “Reconfiguração das Cadeias Globais: Oportunidades e os Impactos Logísticos para a Indústria” explorou as implicações da tendência de nearshoring para o panorama logístico. Especialistas debateram como empresas estão reavaliando suas cadeias de suprimentos, buscando mercados mais próximos para produção e distribuição. Essa reconfiguração apresenta oportunidades para o Brasil, que pode se destacar por sua posição geográfica estratégica e capacidade produtiva. No entanto, também exige ajustes na infraestrutura logística e nos modelos de operação, com foco na eficiência, flexibilidade e resiliência.
O painel “O Mundo está a caminho de uma nova crise econômica?” lançou um olhar crítico sobre os perigos do protecionismo e das políticas isolacionistas. Especialistas alertaram para os impactos negativos dessas medidas no comércio internacional e na recuperação econômica global. A cooperação internacional foi apontada como um caminho crucial para enfrentar os desafios da crise e construir um futuro mais próspero para todos.
Sustentabilidade em ação
O painel “Transformação Sustentável: O Papel do Mercado de Carbono e dos Combustíveis Alternativos na Economia Verde” colocou em foco a necessidade urgente de soluções sustentáveis para o setor logístico. Especialistas discutiram o papel do mercado de carbono e dos combustíveis alternativos na construção de uma economia verde. O Brasil foi alertado para o risco de se tornar dependente de soluções externas, necessitando investir em alternativas nacionais como o etanol e o biogás. Essa transição para um modelo mais sustentável abre um leque de oportunidades para o setor logístico, com a crescente demanda por soluções eficientes e ambientalmente responsáveis.
O painel “Maturidade Logística: como Práticas Logísticas Maduras contribuem para o Planejamento e Desempenho do Negócio?” abordou a importância da adoção de práticas logísticas maduras para o sucesso das empresas. Especialistas destacaram como essas práticas contribuem para o planejamento estratégico, a otimização da cadeia de suprimentos e o aumento da competitividade. A maturidade logística se traduz em benefícios concretos, como redução de custos, aumento da produtividade e aprimoramento da experiência do cliente.
O painel “Como a Transformação Digital está ajudando a crescer a Cadeia de Suprimentos e o Comércio Internacional” explorou o impacto da transformação digital no setor logístico. Especialistas demonstraram como tecnologias como inteligência artificial, IoT e big data estão revolucionando a cadeia de suprimentos, otimizando processos, tomando decisões mais inteligentes e impulsionando o crescimento do comércio internacional. A digitalização desobstrui o caminho para um futuro mais eficiente, transparente e conectado para o setor logístico.