Política
Veja o que algumas lideranças de Tubarão pensam a respeito da escala 6×1
Líderes de sindicatos e vereadores emitiram opiniões sobre o tema; confira
Por
Matheus Machado
Desde a última semana, uma proposta de emenda à Constituição vem movimentando diversas esferas em todo país. A deputada Erika Hilton (PSol) propõe acabar com a escala de trabalho 6×1, alterando o regime onde os funcionários trabalham seis dias seguidos e têm direito a apenas uma folga.
A proposta da deputada é de redução da carga de trabalho semanal de 44 para 36 horas, e que seja possibilitada a jornada de trabalho de quatro dias por semana. Em cima disso, a reportagem do portal SCTodoDia conversou com algumas lideranças da cidade de Tubarão, como sindicatos e vereadores eleitos com perspectivas diferentes sobre o assunto. Confira o que eles disseram:
Walmor Jung, presidente do Sindilojas
Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Tubarão (Sindilojas), Walmor Jung, é necessário tomar cuidado com a flexibilização e que uma redução de carga horária pode também refletir uma redução salarial. O Sindilojas é considerado um sindicato patronal voltado para os interesses dos empresários e empregadores.
“Hoje com 44 horas semanais, não se pode reduzir jornada de trabalho com redução de salários. Agora, a partir do momento que se cria uma nova modalidade menos horas semanais, se cria um novo processo de negociação trabalhista. Passa a ter uma nova legislação. O quanto os nossos colaboradores estão preparados para uma nova legislação onde, nas entrelinhas, consta a redução proporcional ao valor recebido? Onde a jornada de trabalho reduzida e seu salário será proporcional a esta redução?
Os nossos parlamentares não divulgaram exatamente todas as consequências que vão haver. Não se trata só da redução de horas, se trata das consequências que vem junto com essas decisões. As nossas contas elas vencem em 30 dias. Nossa água, luz, mercado, telefone. Fizemos nossas contas para 30 dias de consumo. E nós temos condições de reduzir de seis, para quatro dias de trabalho? Legisladores do Congresso Nacional não levaram a público que a proposta deles existe a redução de salário. Estamos preparados para reduzir o trabalho e proporcionalmente nosso salário? São pegadinhas feitas por parlamentares que não dependem do salário de quem trabalha arduamente para que o Brasil produza e ficam inventando leis e regras quando eles não são afetados por estas regras.
Elizandra Rodrigues, presidente do Sindicato dos Comerciários
Para Elizandra Rodrigues, presidente do Sindicato dos Comerciários de Tubarão e Região, os trabalhadores merecem uma melhor qualidade de vida, com a redução da jornada de trabalho sem descontos no salário. A entidade é voltada para defender os direitos do trabalhador comum.
“Nós do sindicato somos totalmente favoráveis. Vamos produzir materiais para explicar para a população o quanto essa mudança será bem-vinda para a classe trabalhadora. Hoje precisamos trabalhar seis dias para folgar um. Temos visto um grande afastamento dos trabalhadores por questões psicológicas. Tem sido muito difícil, jornadas cada vez mais extensas, o ritmo de trabalho cada vez mais acelerado.
Nós mulheres do comércio, quando temos o dia de folga é para limpar a casa, lavar a roupa. Não temos um momento de lazer, nem para ficar com a família, para ir no médico, para se cuidar. Então vemos essa pec com ótimos olhos e que os deputados defendam o que a classe trabalhadora precisa. Nós vemos que nos lugares onde já acontece essa prática, tem sido um grande sucesso. Temos trabalhadores mais alegres e produtivos, porque tem tempo de lazer, tempo para fazer um curso. As empresas também tem a ganhar. Alguns dizem que as empresas vão quebrar, mas é muito pelo contrário. Hoje estamos com dificuldade de mão de obra devido às escalas extensas e salários baixos. Além de trabalhar muito, ganhamos pouco. Precisamos de dignidade no trabalho e qualidade e vida”.
Vereador reeleito Felipe Tessman (PL)
O vereador de direita Felipe Tessman, que também é empresário, defende uma maior liberdade entre trabalhador e empregador, para que possam fazer seus acordos e chegar a um combinado bom para ambos. Ele também acredita que comerciantes poderão encontrar mais dificuldades em contratar mão de obra, e que as pessoas que estarão de folga em casa, estarão mais sujeitas a adquirirem uma jornada dupla de trabalho nas horas vagas.
“Sou contra as imposições e alterações obrigatórias. Já que o tema está em discussão, sou a favor de que haja liberdade entre empregado e empregador para fazer seus acordos e combinar os horários que irão trabalhar. Sou a favor de o trabalhador escolher se quer trabalhar pela CLT ou fazer um contrato direto com o empregador. Atualmente, os comerciantes e empresários já estão com dificuldade de achar pessoal para trabalhar as horas atuais, imagina se reduzir para ter que chamar mais pessoas. Outras discussões, como a redução da jornada semanal, nesse tempo vago, as pessoas vão ficar em casa? Com a família? Vão passear como estão dizendo? Ou vão acabar arrumando outro emprego e fazer uma jornada dupla? Ou vão ficar vagando por aí? Se considerar que alguns vão ficar ociosos, isso é bom para a pessoa, para o país?
Analisando um pouco mais a proposta, as pessoas irão trabalhar menos e ter o mesmo rendimento, se for olhar por outro aspecto isso na realidade é um aumento de salário, é como se a pessoa ganhasse em torno 20% a mais, e quem vai pagar essa conta? A lei não tem poder de criar recursos financeiros, gerar riqueza. E se mesmo assim a ideia fosse aceita quem iria pagar essa despesa (custo) maior? Os produtos e serviços não ficariam mais caros? Aqueles que tem poucos recursos, iriam ter maiores dificuldades para comprar, pois os produtos iriam estar mais caros devido ao aumento dos custos das empresas.
De maneira geral, sou contra a sugestão pois vai acabar gerando mais problema do que resolver a situação em si. Atualmente temos alguns números estranhos, muita gente recebendo bolsa família e auxílios. Muitas empresas precisando de gente para trabalhar e muita gente gastando bolsa família no jogo do tigrinho e nas BETS. Essa conta não fecha. Termino perguntando: em qual país essa regra foi aplicada com sucesso? Não teriam outras regras que já deram certo em outros países para trazer para o nosso? Copiar os bons exemplos?”.
Vereador eleito Matheus Madeira (PT)
Já o vereador de esquerda e presidente do PT Tubarão, Matheus Madeira, acredita que em outros momentos discursos que garantiram maiores direitos aos trabalhadores passaram pela mesma relutância de alguns e é a favor da redução da jornada de trabalho.
“Vejo que é uma pauta mundial, assim como disse o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que não é um político de esquerda. Se a gente analisar os deputados que aderiram a tramitação da pec, vamos ver que tem um número considerável de políticos de direita que estão sensíveis ao argumento central. O argumento é o investimento na qualidade de vida dos trabalhadores, na satisfação pessoal, no bem-estar, e até na saúde, devido ao adoecimento dos profissionais diante de uma jornada de trabalho desumana.
A redução traz ganhos para o trabalhador, mas também para a produtividade. Existe um debate mundial sobre como a produtividade pode ser melhorada a partir do momento que você tem trabalhadores com mais qualidade de vida e disposição. Então, vejo que precisamos ampliar o horizonte.
Conquistas históricas da classe trabalhadora, como o 13º salário, também foram precedidos de um medo que isso afetasse a produtividade e hoje isso está muito claro. O 13º salário inclusive beneficia a movimentação econômica a partir do momento que os funcionários passam a ter um pouco mais de dinheiro para investir e fazer a economia girar, além de contemplar projetos pessoais”.