Investidores denunciam abandono das obras do Surfland em Garopaba
Cotistas relatam paralisação, falta de transparência e uso indevido de recursos em resort no Sul de SC
O Surfland Brasil, projeto anunciado como o maior resort com piscina de ondas da América Latina, localizado em Garopaba, no Litoral Sul de Santa Catarina, está no centro de uma crise jurídica e de credibilidade. Investidores denunciam abandono das obras, promessas não cumpridas e ausência de diálogo com a empresa responsável.
A construção do empreendimento está paralisada há meses. De acordo com relatos de cotistas, como Ana Claudia Zappelini Cabral, há divergências entre o que foi prometido e o que está sendo entregue. Ela afirma ter adquirido cotas em julho de 2021, com previsão de uso das instalações já em 2023. “A promessa incluía estrutura completa de lazer, como piscina por exemplo, até agora sem construir e com a estruturação do parque modificada após as comercializações”, destaca.
Segundo os investidores, o parque de ondas foi inaugurado em novembro de 2023, mas sem as demais estruturas prometidas. Além disso, a utilização das ondas, inicialmente anunciada a U$ 50 por sessão, está sendo cobrada por valores mais altos, o que também gerou reclamações. “Eles usaram o dinheiro do resort para finalizar o parque, que pertence a outro CNPJ. Admitiram isso em reunião com advogados”, relata Ana.
Outro ponto grave apontado é a continuidade da venda de cotas com base em imagens do parque, apresentadas como se fossem do resort. Cotistas alegam não ter acesso ao canteiro de obras e relatam ausência de respostas da incorporadora a canais como Procon e Reclame Aqui. O caso já tramita na Justiça catarinense. Há decisões reconhecendo atrasos e descumprimentos contratuais, enquanto novos compradores continuam sendo atraídos por campanhas publicitárias que, segundo os investidores, ignoram a realidade da obra.
O portal SCTODODIA.COM.BR tentou contato com a empresa responsável para esclarecimentos sobre o cronograma de entrega, a real situação financeira do empreendimento e as ações previstas para conclusão das obras, porém sem retorno até a publicação desta reportagem.
Confira a entrevista completa com Ana Claudia Zappelini Cabral.
SCTD – Quando e como foi feita sua aquisição no empreendimento Surfland?
Ana Claudia – Comprei a cota da SurfLand em julho de 2021.
SCTD – Quais eram as principais promessas ou garantias oferecidas pela incorporadora no momento da compra?
Ana Claudia – A promessa era entrega do resort até novembro de 2022. Isso já contando com pós pandemia e chuvas da região. Que seria um resort com parque pra toda família curtir, piscina de onda, espelhos d’água ao redor pra quem não estava surfando, academia, várias atividades, e onda por 50 dólares. Que no ano de 2023 já teríamos nossos primeiros 14 dias de uso do resort.
SCTD – Em que momento começaram os sinais de atraso ou problemas com o empreendimento?
Ana Claudia –Final de 2022 a obra do resort se encontrava muito lenta e o parque também devagar. Por volta de julho de 2023 começamos a nos mexer e questionar a empresa, a qual prometeu abrir o parque e o resort em novembro de 2023. Novembro de 2023 à piscina inaugurou, sem nada ao redor, não teriam mais as piscinas, não tinha os restaurantes, não tinha academia e nem sinal do resort (o qual somos proprietários). Lembrando: a compra do cotista é do CNPJ do resort e não do CNPJ do parque. Assim que inaugurada a “onda vendida” foi com valor bem acima de 50 dólares como acordado na venda.
Meses depois algumas estruturas ao redor foram aparecendo, mas nós (cotistas) tínhamos que pagar estacionamento, pagar a onda e nada de ver obra do resort. Em 2024 foi o primeiro pronunciamento da empresa falando das obras (que as mesmas não estariam em atraso) e que entregariam em 2025. Como demonstro por foto as obras estão paradas e abandonadas, eles continuam fazendo a venda usando fotos da obra do parque dizendo que é a obra do resort (venda enganosa). Não deixam visitar a obra, somos proibidos de visitar a nossa própria obra. Não respondem mensagens, não falam de atraso, não respondem Reclame aqui, não respondem ação extrajudicial nem do Procon. Estão blindados por conta de certos “contatos” que possuem em Garopaba e região.
SCTD – A empresa tem respondido aos seus questionamentos ou tentativas de diálogo?
Ana Claudia – Não tem tratativa com a SurfLand. A única vez que responderam foi através de uma ação extrajudicial feita por advogados. Dessa fizeram uma reunião presencial na qual afirmaram que fizeram o crime, sim, eles confirmaram que usaram o dinheiro que os cotistas pagaram para o CNPJ do resort, para finalizar a obra do parque (o qual não nos pertence). Disseram que não tiveram opção, mas em nenhum momento fomos consultados.De resto, só mandam aviso uma vez ao ano para remarcar a abertura do resort.
SCTD – O que você espera como solução ou reparação neste momento?
Ana Claudia – A única alternativa que vejo é entrar com ação individual ou coletiva contra a empresa, pois é nítido que tudo indica que eles pedirão falência judicial para não precisar terminar o resort e nem mesmo devolver o dinheiro. Ficariam com o parque funcionando sem terminar o resort.